Viver é tomar decisões. Ao longo de uma vida, mais de um milhão delas podem ser tomadas, segundo pesquisa realizada na Inglaterra pela Puzzler Media. Ainda conforme o estudo, nos arrependemos, em média, de cerca de 20% das decisões tomadas. E o tamanho do erro não decorre do número de vezes que erramos, e sim do impacto que ele nos causa.
As nossas decisões — triviais ou complexas — baseiam-se na confiança que temos em nossa capacidade de julgar e de fazer escolhas. A questão se expande pelo fato de decisão e confiança estarem presentes em todas as relações humanas. Ainda que uma decisão possa ser solitária, seus impactos podem não afetar apenas quem a toma.
Qual o fator crítico para a tomada de uma decisão — certa ou errada? Essa é uma pergunta complexa que exigiria um tratado para ser abordada. Mas existe um aspecto sempre presente na qualidade de uma decisão: a qualidade das informações sobre a questão em tela. Quanto maior a assimetria de informações, maior o abismo entre quem toma a decisão correta e quem toma a decisão errada.
“Dado o nível de informações de hoje, é difícil saber o que pretendem os candidatos, além da disputa pelo poder”
Estamos em meio a um processo eleitoral complexo no qual dois presidentes da República — um no exercício e outro que ocupou por duas vezes o cargo — disputam a liderança. Em teoria, as propostas de ambos seriam de amplo conhecimento dos eleitores, o que facilitaria a tomada de decisão entre votar em um ou em outro. Não é o que ocorre. O debate tem sido rasteiro e — pior — não cobramos um nível melhor.
Como nação, temos um imenso desafio pela frente: salvar o Brasil da mediocridade que bloqueia nossas potencialidades. Porém o que querem os candidatos mais além da disputa eleitoral? Esta é uma pergunta que todos os eleitores deveriam se fazer. Bem como buscar respostas. Considerando o nível de informações que circulam no Brasil bem como a qualidade do debate político, é difícil saber o que pretendem além da disputa do poder pelo poder.
Precisamos de mais informações sobre o que pensam os nossos candidatos para podermos tomar as melhores decisões. Contudo, a melhor informação não é uma prioridade neste debate pré-eleitoral. Até agora as prioridades têm sido: manter a guerra ideológica, desmoralizar o adversário e atrapalhar qualquer ideia ou proposta do concorrente. Há, ainda, uma frenética atividade para colocar crachás e rótulos negativos em quem pensa diferente do padrão vigente. Como os argumentos que circulam são fracos, na prática prevalece o que dizia o Padre Antônio Vieira: para argumentos fracos, fale mais alto.
É óbvio que as eleições deste ano não vão nos salvar da mediocridade. Mas poderiam amenizar o problema, caso pudéssemos encaminhar algumas questões a partir de reflexões sérias. Frente aos desafios existentes nas áreas de educação, saúde, distribuição de renda, emprego e segurança pública, o momento eleitoral deveria impor um debate racional, pragmático e inclusivo sobre essas questões. Em tempos de fake news e interpretações distorcidas, mais do que nunca o brasileiro precisa de informação de qualidade. Mas não é o que se encontra disponível com facilidade.
Publicado em VEJA de 1 de junho de 2022, edição nº 2791