A política é um terreno fértil para a criação das chamadas “teorias da conspiração”. Para abordar o tema, cabe explicar que uma teoria da conspiração é, basicamente, uma afirmação hipotética de que pessoas ou instituições estariam tramando algo contra as regras estabelecidas.
Ou, ainda na esteira da conspiração, negar ter ocorrido um fato que realmente ocorreu. Por exemplo, negar que o homem foi à Lua sob o argumento de que a radiação solar teria impedido a sobrevivência dos astronautas. Em meio à Guerra Fria, essa teoria partia do pressuposto de que existia então uma intenção deliberada de enganar o mundo acerca das potencialidades tecnológicas americanas.
As conspirações e suas teorias servem para criar pânico, gerar reações, mudar ou consolidar situações. As conspirações e suas teorias começam a ficar sérias quando elas são justificadas por prenúncios de atitudes ou por atitudes que, de fato, terminam por confirmá-las. A invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, é um exemplo de teoria da conspiração que se materializou em danos graves ao sistema democrático americano e na morte de cinco pessoas, além de dezenas de feridos.
Ao darmos curso a teorias da conspiração, entramos no modo “crise”, que pode nos levar a situações críticas e até mesmo a tragédias fatais. O que fazer? A maioria das pessoas tende a desconfiar de teorias da conspiração. O que, de modo geral, é bom. Mas, como vivemos tempos de inundação de informações, a boa informação anda escassa e a capacidade de separar o joio do trigo tem estado muito ameaçada.
“As elites parecem hipnotizadas e não reagem em favor das instituições e do respeito às regras”
Hoje, correm soltas algumas teorias da conspiração. Uma delas se refere à possibilidade de manipulação das urnas eletrônicas em outubro. Outra é a de que, a partir de uma convulsão social, as eleições poderiam ser adiadas. Uma terceira teoria da conspiração dá conta de que todas as pesquisas eleitorais são adulteradas.
Geralmente, as hipóteses de conspiração são construídas a partir de pedaços de verdade com ingredientes falsos. O que fazer? O primeiro passo é entender a realidade posta. Hoje, a polarização na política pode degringolar em violência explícita, já que em ambos os polos existem pessoas suficientemente sem miolos para fazer uma besteira.
O segundo passo é reconhecer que as conspirações estão derrubando o valor de nossos ativos e, consequentemente, afetando renda, emprego, impostos e divisas. A perda de valor nos afasta do caminho que poderia tanto reduzir a desigualdade existente em nosso país quanto deslanchar o desenvolvimento econômico e social.
O terceiro ponto a considerar é que nossas elites parecem hipnotizadas por essas teorias e não reagem em favor das instituições e do respeito às regras. O quarto ponto é que, de lado a lado, está faltando equilíbrio para as disputas dentro dos limites legais e constitucionais.
Por fim, a mensagem fundamental aqui é a de que devemos proteger o processo de construção de nossas instituições. Para tal, é preciso respeitar as regras e ter responsabilidade. E, sobretudo, reconhecer quanto as teorias da conspiração são perigosas e podem ser desastrosas ao país.
Publicado em VEJA de 27 de julho de 2022, edição nº 2799