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Vitória, vitória: de Kharkiv a Mariupol, Ucrânia tem o que celebrar

O impossível acontece e forças ucranianas não só fazem ocupantes bater em retirada, como conseguem livrar os “300 de Mariupol”

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 20 Maio 2022, 10h35 - Publicado em 17 Maio 2022, 07h46

“Precisamos de nossos heróis vivos”. Assim Volodimir Zelenski definiu as concessões feitas para conseguir que os 280 combatentes remanescentes no labirinto de túneis da usina siderúrgica de Mariupol fossem evacuados do que há semanas se configurava como uma tumba gigantesca.

O presidente ucraniano admitiu que tinha sido um “dia difícil”, pois em troca da retirada dos resistentes – sem pernas, sem braços, sem comida, sem munição -, ficou selado o controle russo da cidade portuária. Os “espartanos” da usina Azovstal, que se dispunham a lutar até a morte, sabendo que seria torturados e executados caso se rendessem, foram levados para áreas controladas por russos ou simpatizantes.

Em compensação, foi tranquilo ouvir as boas notícias que chegaram de outra frente.

“Senhor presidente, comandante-chefe das Forças Armadas da Ucrânia”, disse um orgulhoso oficial de um batalhão da Defesa Territorial, cercado de outros militares. “Brigadas da Ucrânia chegaram à linha divisória, à fronteira com a Federação Russa, o país ocupante”.

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Parecia uma cena de filme, inclusive pelo marco divisório com o azul e amarelo da Ucrânia, mas foi de verdade. Não há mais russos em Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, cercada logo no início da invasão. E forças ucranianas avançaram, isoladamente, os 80 quilômetros até a fronteira.

É um golpe tremendo para a Rússia: depois de bater em retirada da região de Kiev, a capital, as forças invasoras também tiveram que sair de Kharkiv (Kharkov em russo, palco de nada menos que quatro grandes batalhas com a Alemanha nazista durante a II Guerra Mundial).

A importância, tanto simbólica quanto estratégica, não pode ser subestimada, principalmente numa cidade em que todo mundo fala russo e os invasores contavam “cooptar” a população sem maiores problemas. 

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É através da região de Kharkiv que o complexo logístico russo na cidade de Belgorod, a 40 quilômetros da fronteira, mantém a linha de suprimentos para as forças ocupantes.

Foi uma guinada tão importante que até gente de cabeça fria, como o norueguês Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, se deu ao luxo de especular: “A Ucrânia pode ganhar estar guerra”.

Quem se atreveria a fazer um prognóstico desses, com base em fatos, quando o gigante russo parecia pronto para engolir a desarticulada Ucrânia?

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“O quadro geral ainda é, como em todas as guerras, complicado, mas o principal está claro. A Rússia está perdendo, de novo”, analisou Richard Kemp, ex-oficial de infantaria especialista em inteligência, no Telegraph.  “Ela está sendo derrotada, atrasada ou pressionada na maioria das frentes e nenhum de seus objetivos principais foi alcançado”.

“Putin está ficando rapidamente sem tempo e sem opções: se sua última retirada não produzir poder de combate suficiente para derrotar o Exército ucraniano no leste, ele estará seriamente encrencado. Não está claro que existe um plano B para o plano B”.

À libertação de Kharkiv, somam-se os anúncios oficiais do pedido de ingresso da Finlândia e da Suécia na Otan, o que deixa o Ártico, um dos teatros de operações mais importantes para a Rússia, literalmente dominado pela aliança militar antagônica.

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Como as más notícias, para os russos, não chegam sozinhas, o Ministério da Defesa britânico avaliou que a Rússia provavelmente perdeu um terço das forças terrestres deslocadas para a invasão da Ucrânia. Repetindo: um terço.

“Apesar de avanços iniciais em pequena escala, a Rússia não conseguiu ganhos territoriais substanciais no último mês, sofrendo consistentemente altos níveis de atritos”, resumiu o ministério.

Até a previsível vitória dos representantes ucranianos no Eurovision, o festival musical sensacionalmente kitsch, ajudou a criar um clima de otimismo. Em mais uma vitória da guerra das narrativas, o principal integrante do grupo vitorioso, Oleg Psiuk, posou de chapéu cor de rosa se despedindo com um beijo na namorada. Ele e os outros integrantes da Kalush Orchestra voltaram a seus postos, como combatentes de uma guerra na qual todos os ucranianos de 18 a 60 anos têm que lutar.

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 Os remanescentes do regimento Azov, justamente o que os russos mais queriam derrotar e usar para comprovar a tese de que suas antigas simpatias neonazistas justificavam colar o rótulo no país inteiro, foram trocados por prisioneiros russos.

Psicologicamente, a Rússia precisava fazer um sinal desses, por causa da impressão de que está largado seus homens para trás, tanto vivos quanto mortos, abandonados em grandes quantidades.

Ou fazendo coisas piores ainda.  Combatentes russos da área de inteligência militar, capturados, disseram a um jornalista ucraniano que um tenente-coronel que os comandava matou pelo menos cinco militares russos feridos. Se não podiam andar, eram executados, mesmo que os ferimentos não fossem catastróficos.

Os chechenos, que fizeram muitos atos de exibicionismo no início da guerra, são conhecidos por executar camaradas sem muitas chances de sobrevivência, mas o tenente-coronel mencionado pelos presos de guerra parece ter ido vários passos adiante.

Que moral pode ter uma tropa que teme que a morte sobrevenha através de seus próprios comandantes?

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