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Uma atriz pornô pode destruir a carreira de Trump? Muitas hipóteses

O apoio dos trumpistas raiz é inabalável, mas não significa que o bloco continuará assim até a eleição presidencial de 2024

Por Vilma Gryzinski 20 mar 2023, 18h02

“Trump vai ganhar de lavada”. O autor da previsão, Elon Musk, erra muito e acerta muito. Mais acerta do que erra, considerando-se que vai e volta como o homem mais rico do planeta.

Musk fez a previsão na expectativa de Donald Trump ser levado preso por um caso antigo, algo ridículo, embora com o arcabouço de coisa ilegal, do pagamento de 130 mil dólares à atriz pornô Stormy Daniels para não falar sobre o encontro sexual que teve com o então apenas empresário ambicioso em 2006. Se Trump perder a Casa Branca em 2024 por causa de uma interação fortuita, terá sido um dos relacionamentos mais caros da história, ao nível da paixão fatídica de Marco Antônio por Cleópatra.

Tornar o ex-presidente réu, com todos os procedimentos – algemas, foto com roupa de presidiário, audiência de custódia – soa como o ápice da provocação para os trumpistas que o consideram uma vítima de uma eleição fraudulenta (altamente discutível) e de uma perseguição implacável dos adversários políticos e da imensa maioria da mídia (verdade).

Mas estarão os trumpistas mobilizados para formar a cadeia humana que Trump quer, para ser levado preso nos braços do povo?

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As punições pesadas, muitas exageradas, recebidas na justiça pelos manifestantes que entraram no Capitólio em 6 de janeiro de 2021, inclusive os que não fizeram nada de errado, certamente influenciam na decisão de participar de novos atos. Em contrapartida, a transformação de Trump num mártir da perseguição judicial também é um importante incentivo a seus seguidores para sair às ruas.

Trump está a um passo de ser tornado réu pelo promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg, porque comprou o silêncio da esfuziante Stormy, uma medida perfeitamente legítima, por caminhos tortuosos: o dinheiro foi pago por Michael Cohen, o advogado de confiança que se tornou delator. Cohen foi reembolsado. Como era véspera da eleição presidencial de 2016, o promotor quer configurar o caso como uso não declarado de verba de campanha.

Não é um caso preto no branco, tanto para a opinião pública quanto para a própria justiça.

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Trump já alegou que mentiu sobre o pagamento porque não queria magoar a esposa, Melania. Na época do fugaz relacionamento, ela tinha acabado de dar à luz o filho do casal Barron Trump, um adolescente que fez 17 anos hoje e mede 2,1 metros de altura. Stormy Daniels, Stephanie Clifford no registro, já foi condenada a pagar 300 mil dólares em custas de processo por uma ação por difamação que abriu contra Trump. Na época, ele comemorou a “vitória total” como um atestado de inocência.

Se Trump for realmente preso amanhã, deve ser liberado em seguida e um corpo de jurados composto por pessoas comuns decidirá se o caso deve ser levado adiante. Vai, obviamente, fazer o maior auê. Como o caso ecoará durante as primárias e até a eleição de novembro de 2024 é uma questão em aberto.

Trump continua à frente de Ron DeSantis, o governador da Flórida que surgiu como uma alternativa republicana, embora em alguns estados por uma diferença de apenas três pontos. É um candidato tão considerável, que a imprensa democrata faz campanha constante contra ele. Última reportagem investigativa: foi flagrado em 2019 comendo um pudim de chocolate com os dedos durante uma viagem de avião.

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Nossa, DeSantis deve ter tremido nas bases depois dessa. O governador é esperto e age estrategicamente, ao contrário do explosivo Trump. É claro que se sentiu na obrigação de apoiar seu ex-mentor no caso de Nova York.

As pesquisas, hoje, mostram um quadro indefinido. Numa das mais recentes, do Washington Post/ABC News, Trump aparece com 48% dos votos e Joe Biden com 46%. Se o candidato fosse DeSantis, seria 47% contra 46%. A quantidade de guinadas que pode acontecer até lá é simplesmente imensurável.
Estaria Elon Musk certo em sua previsão?

Nesse caso, Trump estaria torcendo para ser mesmo levado preso, como ele próprio antecipou. Muitos eleitores, de direita ou de esquerda, prefeririam outros candidatos em lugar de uma reprise do embate Trump-Biden.

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Mas quem estava achando que seria uma chatice o “não vale a pena ver de novo” tem que reavaliar opiniões.

Um ex-presidente preso não só é um fato sem precedentes como também reverbera sobre os acontecimentos políticos no Brasil, onde Jair Bolsonaro antecipou em muitos anos o pacote Trump, mas depois se viu como uma espécie de “outro”, um doppelgänger do presidente americano transposto para o bioma brasiliense.

Detalhe: Ron DeSantis emagreceu vários quilos nas últimas semanas, um feito unanimemente atribuído ao Ozempic, o remédio do momento, apesar de desmentidos. Nada como uma boa ambição eleitoral para colocar candidatos na linha.

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Nem Joe Biden deve estar acompanhando com tanto interesse os desdobramentos judiciais do caso que envolve atrás pornô, advogado delator, o primeiro negro eleito promotor distrital em Nova York e outras personagens do universo Trump. Alvin Bragg é da ala que quer usar suas prerrogativas para fazer justiça social, inclusive “aliviando” para os ladrões que assaltam residências e lojas. Adivinhem o que ele acha de Donald Trump.

O ódio é amplamente retribuído, claro. “São comunistas, marxistas, RINOs (republicanos não trumpistas) e fracassados que estão destruindo nosso país de propósito”, tuitou o possível réu. “Animais e bandidos”. Os republicanos da Comissão de Justiça da Câmara já estão investigando Bragg.

Preparem a pipoca: o circo está montado e o espetáculo tem tudo para ser emocionante.

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