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Terrorista que explodiria fãs de Taylor Swift ‘acha certo matar infiéis’

O que explica a ideologia ultrarradical de jovem de 19 anos planejou um atentado em grande escala contra show da cantora em Viena

Por Vilma Gryzinski 9 ago 2024, 08h29

“Ele claramente se radicalizou na linha do Estado Islâmico e acha certo matar infiéis”. As palavras do diretor de Segurança Pública do Ministério do Interior da Áustria, Franz Ruf, são de arrepiar. Mostram que a praga do extremismo islâmico que parecia controlada na Europa só procura uma brecha para aflorar de novo.

O terrorista, que confessou o crime planejado para ontem ou hoje, é austríaco com origem num país que a maioria das pessoas nem sabe que existe, a Macedônia do Norte. Foi identificado apenas como Beran A., como exigem as leis austríacas.

Vivia com a família num bom sobradinho – ser refugiado na Áustria tem muitas vantagens. A polícia está investigando se ele tinha cúmplices infiltrados no esquema de segurança do show cancelado de Taylor Swift. Um outro jovem, de 17 anos, também foi preso.

No atentado, ele planejava jogar o carro contra fãs da cantora do lado de fora do estádio onde seria o show, usar um colete-bomba e facas e machetes. Vários materiais explosivos foram encontrados em sua casa. As armas aparecem no vídeo que ele fez antes do atentado frustrado, prestando juramento ao Estado Islâmico.

É um ritual comum do terrorismo que se tornou tragicamente conhecido depois do 11 de Setembro de 2001, o maior conjunto de atentados terroristas da história.

AGENTE INFILTRADO

A radicalização, refletida em sinais externos como barba muito grande e roupas longas de mangas compridas, não era nenhum segredo. “Ele parecia um agente terrorista infiltrado”, resumiu uma jovem moradora do mesmo bairro.

Não seria um atentado sem precedentes. Em 22 de maio de 2017, Salman Abedi explodiu uma mochila-bomba no saguão de entrada do Manchester Arena, onde a cantora Ariana Grande atraía o habitual público de meninas e adolescentes. Foram 22 mortos, na maioria menores.

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Abedi foi ajudado por seu irmão, Hashem, e deveria estar sob vigilância estreita – ou simplesmente ter sido expulso da Grã-Bretanha. Os dois irmãos tinham estado na Líbia e mantido contatos com o braço da Al Qaeda no norte da África.

A Inglaterra atualmente está vivendo momentos de alta volatilidade por causa de um outro caso, cujas investigações ainda são sigilosas, mas que provocou reações extremas: o esfaqueamento em massa de meninas que participavam de uma aula de dança com tema Taylor Swift na cidade de Southport. Três crianças morreram. O assassino é Axel Rubakubana, de 17 anos, filho de exilados de Ruanda.

ATÉ AS PEDRAS

O processo de ultra-radicalização de jovens que vivem em países democráticos, avançados e cheios de projetos para dar uma chance a todos (a polícia alemã, por exemplo, cogita dar um ano de Netflix grátis para imigrantes que entregarem suas facas) é intensamente estudado por autoridades de policiamento e inteligência, além de acadêmicos.

Todos costumam tomar os maiores cuidados para não criminalizar toda a religião muçulmana, com centenas de milhões de seguidores que vivem na lei e na ordem. Mas existe evidentemente uma conexão dos ultrafundamentalistas com os preceitos que se propagaram a partir do século VI. É possível tanto usá-los para uma vida pacífica, com atos de fé e filantropia, quanto usar trechos do Corão para pregar que os muçulmanos não podem “tomar cristãos e judeus como amigos” e que até as pedras dirão “tem um judeu atrás de mim, venha matá-lo”.

A radicalização sempre aflorou em várias correntes da religião muçulmana, mas o fenômeno moderno surgiu no Egito do começo do século XX, com a Fraternidade Muçulmana, um movimento cuja ideologia fundamentalista predomina entre os palestinos do Hamas. Pelo lado da minoria xiita, uma palavra que se tornou sinônimo de radicalismo, o extremismo domina as instituições do Estado no Irã. Ambos, atualmente aliados, pregam a extinção de Israel.

“SÓ UMA VEZ”

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As autoridades policiais europeias têm feito um trabalho extraordinário para coibir atentados terroristas, inclusive como se viu agora na Áustria. Mas a realidade é que na Inglaterra, na França, na Bélgica e outros países com grandes populações com origem em países muçulmanos a quantidade de suspeitos de radicalismo que precisam ser acompanhados pelos serviços de inteligência é de muitos milhares. Os “lobos solitários”, jovens que se radicalizam na internet sem integrar uma organização, são os mais difíceis de policiar.

Na França, os suspeitos de extremismo são conhecidos como “ficha S”. Todos os autores de atentados terroristas no país estavam nessa categoria de vigiados, mas não processados. A vigilância foi redobrada por causa das Olimpíadas, mas é impossível garantir que algum desses radicais não consiga driblar os serviços policiais.

“Só precisamos dar sorte uma vez”, disseram os terroristas irlandeses do IRA depois de tentarem assassinar Margaret Thatcher com uma bomba escondida em seu quarto de hotel, em 1984.

Já a polícia tem que acertar sempre, como aconteceu agora na Áustria, nem que seja nos últimos instantes.

Imaginem o que é a tensão agora em torno dos shows de Taylor Swift em Londres, com protestos misturando a extrema direita, cidadãos comuns revoltados com o esfaqueamento das meninas, contramanifestações de esquerda e grupos organizados de muçulmanos atacando ingleses brancos. Um vereador foi preso por gritar “temos que cortar a garganta” dos fascistas. É uma amostra do clima que se instalou no país.

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