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Quanto vai durar o sufoco? ‘Pelo menos alguns meses’

Esta é uma avaliação de quem deve ser levado a sério - o Pentágono - e prorrogação gradativa, por períodos semanais, pode ser boa para administrar o pânico

Por Vilma Gryzinski 25 mar 2020, 07h07

Todo mundo quer saber uma coisa nesse momento: quanto tempo vai durar o confinamento (se surgirão tratamentos para o vírus será tratado em outro post).

Diferentes países e diferentes especialistas têm abordagens com características próprias, algumas até divergentes. Vamos tratar aqui de algumas delas.

Começando pelo maior complexo de pensamento estratégico do mundo, o Pentágono.

Disse, com todos os cuidados, mas também a objetividade militar característica, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, que foi tenente-coronel da legendária 101º Divisão e depois executivo da indústria bélica:

“Acho que precisamos nos planejar para que isso dure alguns meses, no mínimo. E estamos tomando todas as medidas de precaução para isso.”

A seu lado, o chefe do estado-maior conjunto, general Mark Milley, especificou: “Estamos contemplando de oito a dez semanas, talvez doze. Vamos dizer três meses”.

É uma estimativa relativamente conservadora e o Pentágono, evidentemente, está se preparando para o pior – inclusive a maligna conjunção de explosões sociais e deterioração geral em países relevantes como parte da extensa rede de alianças dos Estados Unidos que garante a estabilidade mundial.

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Falando ao El País, o virologista Adolfo García-Sastre, chefe do Instituto de Saúde Global e Patógenos Emergentes do Mount Sinai Hospital de Nova York, avaliou:

“Haverá duas ondas de Covid, talvez três, mas em um ano a partir de agora, mesmo que não tenha vacina, estará infectada de 40% a 50% da população mundial, o que fará com que o vírus freie sua propagação”.

“Quando o número de contágios começar a baixar, é importante não cantar vitória, não sair todo mundo na rua, de volta à vida normal, porque é fácil que o vírus volte a subir. Será preciso voltar à vida normal pouco a pouco e estar preparados para isolar as pessoas de novo se for preciso”.

A mesma, e unânime entre os especialistas, avaliação de que grandes parcelas da população serão infectadas e, a partir daí, imunes, levou o ministro da Defesa de Israel, Naftali Benett, a propor “a coisa mais importante a fazer”.

“Mais do que o distanciamento social, mais do que testes, testes e mais testes, mais do que qualquer outra coisa: separar os velhos dos jovens”.

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“A combinação mais letal que existe é quando a vovó abraça o netinho”.

“Os idosos ficarão separados para sempre? A resposta é não”.

“Ao longo dos próximos meses, o resto da população vai gradualmente pegar o coronavírus. Quando chegar a 60% ou 70% da população, a epidemia acaba e a vovó e o vovô podem sair do confinamento”.

“Pode levar um mês, dois ou três, talvez um pouco mais”.

Já deu para perceber que ninguém está falando em mais quinze dias ou três semanas. Nos países europeus mais afetados, a dura realidade está sendo transmitida gradualmente.

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A França prorrogou o confinamento por mais seis semanas. O que virá depois? Dificilmente um “liberou geral”.

As restrições na Grã-Bretanha serão revisadas a cada três semanas. Tradução: vão durar meses.

O governo de Boris Johnson usou a tática de prorrogar e introduzir gradualmente o confinamento a ponto de parecer estar sendo empurrado pelo clamor da opinião pública.

Quando finalmente o implantou, teve 94% de apoio.

“Existe uma psicologia para lidar com esta crise”, analisa Tal Brosh Nissimov, coordenador do Ministério da Saúde de Israel.

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As medidas mais severas de contenção só podem ser tomadas “quando as pessoas começam a ficar doentes”.

E apavoradas. Olham para focos críticos como a Itália e a Espanha e imaginam o que vai acontecer em seus próprios países.

Aceitam, assim, cada vez mais, restrições que em circunstâncias menos graves seriam inimagináveis em países democráticos.

Instilar um espírito de união nacional também tem um papel importante.

Outro especialista israelense, Irwin Mansdorf, faz uma comparação arriscada, mas realista: os países onde o combate ao novo coronavírus tem sido mais bem-sucedido, como Alemanha, Japão ou Coreia do Sul, são aqueles em que obediência e disciplina estão profundamente arraigados na cultura.

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“O denominador comum é que têm comportamento mais obediente e respeito pela autoridade”, disse Mansdorf ao Post.

A duração do confinamento e a adesão da população são dois fatores que se entrecruzam. Cantar ópera na sacada do apartamento é inspirador na primeira semana, animador na segunda e assim por diante.

E quando estivermos nos três meses que agora são o novo marco? Ou seis? Ou mais?

Mais ainda: como manter o abastecimento durante tanto tempo?

Ficar em casa com supermercados abertos (e todo o estoque do mundo de papel higiênico na despensa) é bem diferente de entrar nas filas para receber rações do Exército.

“Já está acontecendo e só podemos prognosticar que o confinamento vai ficar pior”, disse ao Bloomberg um especialista em riscos emergentes de Londres, Tim Benton.

O que já está acontecendo? Suspensão das exportações de alimentos. O Cazaquistão cortou a farinha de trigo, da qual é um dos maiores exportadores.

Vai ser, cada vez mais, cada um por si.

Por isso, prognosticar a duração da epidemia, em suas várias fases, é vital. E administrar realidade aos poucos.

Todos os governos e instituições dos países afetados estão aprendendo com essa crise, por mais preparados para contingências que fossem.

Uma das experiências a ser seguida é a da Suécia, o país europeu com menos restrições até agora. Escolas, bares, restaurantes e parques continuam abertos.

O país tem cerca de 2 300 casos confirmados e aumenta o clamor para que faça o que todos os outros estão fazendo, inclusive os vizinhos escandinavos.

Só para lembrar o que já foi dito aqui: desde o dia 16, Mark Esper, o secretário da Defesa, está completamente separado de seu vice, David Norquist, para garantir a continuidade de comando.

E quando Donald Trump não aparecer mais ao lado de Mike Pence?

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