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Previsões para o Oriente Médio: tudo igual, tudo diferente

Trump vai mais adiante ainda do que a esquerda sempre pede e diz que os Estados Unidos não vão mais ser a “polícia do mundo”

Por Vilma Gryzinski
Atualizado em 27 dez 2018, 10h31 - Publicado em 27 dez 2018, 10h08

Não está fácil para os antitrumpistas honestos condenar sem ressalvas tudo o que Donald Trump faz.

A visita relâmpago dele ao Iraque, para confraternizar com deslumbrados militares americanos, trouxe mais surpresas ainda ao ambiente já surpreendente desde que ele anunciou a retirada das forças especiais da Síria.

Como todas as forças à esquerda reclamam há várias décadas, ele prometeu: “Os Estados Unidos não podem continuar a ser a polícia do mundo. Não queremos isso.”

E mais: “A América não deveria lutar as guerras em lugar de todos os países do mundo.” Os Estados Unidos também não vão participar da reconstrução da Síria Sobrou alguma dúvida? “Não somos mais os otários do mundo, pessoal.”

Foi uma resposta brutalmente direta ao tsunami de críticas que provocou ao dizer que os 2.000 militares americanos em operação coordenada com os curdos da Síria iam voltar para casa.

A reação mais grave foi a do secretário da Defesa, Jim Mattis, que pediu demissão, invocando a rede de alianças e, em termos mais elevados, o papel de polícia que garantiu a ordem mundial e a preponderância americana desde o pós-guerra.

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Pior do que largar os curdos à sanha da Turquia – afinal, estão acostumados a ser traídos e abandonados -, seria um renascimento do Estado Islâmico. Mas se começarem a botar as garras de fora novamente, a estrutura de mais de 5 000 militares americanos no Iraque, tem tudo para “bater até que fiquem tontos”.

E o risco de que o Irã fique com caminho livre para criar uma “ponte” terrestre, avançando pelo território sírio até o Líbano, um dos pesadelos de Israel?

“Nós damos 4,5 bilhões de dólares por ano. E eles sabem se defender muito bem, basta olhar.”

De novo, alguma dúvida? “Vamos tomar conta de Israel. Israel vai ficar bem. Mas nós damos 4,5 bilhões de dólares. E damos, sinceramente, muito mais dinheiro do que isso, muito mais. E eles sabem se cuidar sozinhos.”

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Trump exagerou um pouquinho a ajuda anual, parte do pacote de 38 bilhões de dólares válido por uma década aprovado durante o governo Obama.

Falar assim, sem metáforas, sobre a formidável ajuda americana não faz parte do protocolo habitual. Nem precisa dizer que Trump não segue protocolo nenhum.

É um problema a mais para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que chega ao Brasil carregando o seguinte pacote: três processos na justiça, antecipação das eleições para para abril, uma campanha para eliminar túneis cavados pelo Hezbollah na fronteira com o Líbano, túneis e protestos do Hamas na fronteira com Gaza, estranhamento crescente com a Rússia
por causa de bombardeios pontuais contra forcas do Irã e do Hezbollah na Síria.

Como não existe dia tranquilo em Israel. Netanyahu está acostumado. E até fortalecido por pesquisas indicando que seu partido vai ser de novo o mais votado, em condições de formar uma coalizão de governo.

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Como a eleição vai ser só em 9 de abril, tudo pode mudar. Nada muito diferente do habitual.

A saída americana da Síria, já assinada por Trump, mas não iniciada, imprime mais incógnitas a um equilíbrio de forças já normalmente estonteante diante da quantidade e variedade de seus elementos.

Dizem que Trump anunciou pela primeira vez a saída numa conversa por telefone com Recep Tayyip Erdogan. “Quer saber? É toda sua”, disse, abruptamente, sobre a Síria.

Talvez ele estivesse prevendo que entrar no norte do território sírio e massacrar os curdos não seja o passeio com que os turcos sonham. Talvez ele simplesmente estivesse dizendo “se vire”.

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O único órgão importante de esquerda que publicou um artigo de apoio à decisão de Trump foi o templo do progressismo chique, o Guardian. Trevor Timm, que é alinhado com a turma de Edward Snowden e companhia, o que já explica muita coisa. espetou:

“É incrível que, por um lado, todo mundo considere Trump um maluco instável e ignorante (uma opinião totalmente razoável), e ao mesmo tempo ache perfeitamente OK que lidere os militares americanos em outro engajamento de longo prazo envolvendo fatores geopolíticos incrivelmente complicados”.

Quanto à esquerda americana, as críticas se concentraram nas botas Timberland de Melania Trump (com cordão mostarda combinando com a jaqueta militar da marca de Victoria Beckham).

É isso que acontece quando a esquerda e a direita ficam igualmente estonteadas.

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