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O poder das “vice-ditadoras”

A influência natural das esposas de governantes

Por Vilma Gryzinski 5 jan 2025, 08h00

Afinal, o que faz uma primeira-dama? A era das obras benemerentes parece enterrada na história, mas a “ressignificação” — ô palavrinha horrorosa — ainda está em processo. Em quaisquer circunstâncias, o acesso ao leito — e ao ouvido — conjugal confere a essas mulheres um instrumento que invariavelmente entra em choque com elementos do círculo político do presidente e com a opinião pública. O ressentimento contra mulheres sem voto se metendo em assuntos de Estado é universal. O ideal é que seguissem todas o modelo do marido de Angela Merkel. Enquanto ela esteve no poder, Joachim Sauer seguiu sua carreira como pesquisador de química quântica na Universidade Humboldt de Berlim. Nenhum escândalo, nenhuma interferência que viesse a público, nem muito menos participação em reuniões de ministros. Em nenhum momento Sauer pretendeu mudar a “comunicação” do governo — o clássico de não captar quando as coisas vão mal pelo conteúdo e colocar a culpa na forma. Não precisa entender de química quântica para perceber o engano.

A química também era a especialidade (alegada, dizem que obrigava cientistas a escrever seus artigos) de Elena Ceausescu, a primeira-dama a ter o destino mais brutal da história recente. Executada no dia do Natal de 1989, ela produziu com o marido, Nicolae Ceausescu, autointitulado “Gênio dos Cárpatos”, o único caso em que o comunismo desabou com violência na Europa Oriental. Na Romênia, a Revolução de Veludo foi manchada de sangue por causa da repressão a manifestantes que pediam liberdade. O sinistro casal ainda tentou escapar de helicóptero quando viu que todo mundo estava mudando de lado, um processo rápido e incontrolável, como constataram recentemente Asma e Bashar al-Assad na Síria. “Seus filhos da p***”, xingou Elena ao ser levada, com seu casaco de gola de pele, para a frente do pelotão de fuzilamento, depois de um julgamento farsesco de apenas duas horas. Mulheres de líderes como Elena Ceausescu e Jiang Qing, a poderosa madame Mao Tsé-tung (suicidou-se quando foi para a prisão domiciliar), podem ser chamadas de “vice-­ditadoras” por seu envolvimento na política. A classificação foi criada especialmente para Rosario Murillo, vice-presidente no estranho e repressor regime da Nicarágua, tendo transitado da esquerda para o caudilhismo, com toques bizarros de ocultismo que lhe garantem o epíteto de “bruxa”.

“O ressentimento contra mulheres sem voto se metendo em assuntos de Estado é universal”

Ocultismo também era um pano de fundo para outra primeira-dama que fez o caminho completo e virou presidente, Isabelita Perón. Seu mentor, depois da morte de Juan Perón, foi outra figura tétrica, José López de Rega, chamado, sem nenhuma originalidade, de Bruxo. Originalmente do ramo do entretenimento noturno, Isabelita enfrentou problemas muito além de sua capacidade e ainda por cima a sombra projetada pelo epítome de primeira-­dama poderosa, Evita. Incrivelmente popular, Evita foi interrompida pelo câncer de útero na trajetória de primeira mulher a comandar um movimento populista por direito próprio, e não apenas como emanação do marido. Morreu aos 33 anos e deixou um paradigma que muitas tentam, consciente ou inconscientemente, reproduzir. “Evita” é o apelido de todas as primeiras-damas ambiciosas, muitas vezes propelidas por maridos doentes, como Edith Wilson, Nancy Reagan e Jill Biden. Não chegam nem perto e é bom para a democracia que seja assim.

Publicado em VEJA de 3 de janeiro de 2025, edição nº 2925

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