Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O dilema da guerra das estátuas

A história da Guerra Civil americana está vivendo mais um capítulo

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 19 ago 2017, 06h00 - Publicado em 19 ago 2017, 06h00

Pode não ser justo, mas é quase inevitável avaliar o passado pelos padrões do presente e usar o presente para reescrever o passado. De muitas maneiras, é isso que está acontecendo nos conflitos em torno dos monumentos e lugares públicos que homenageiam os vencidos na Guerra Civil americana. No destino da estátua do general Robert E. Lee, o maior de todos os vencidos, é projetada uma briga muito atual: quem fala em nome da maioria dos americanos.

Certamente não os supremacistas brancos nem os black blocs que se espancaram em Charlottes­ville, embora representem versões maniqueístas da opinião do resto do país. Para os primeiros, interessa usar a queda da estátua do general que comandou o exército dos onze estados secessionistas do Sul como uma ofensa brutal a todos os brancos ame­ricanos que, pelos princípios da repugnante causa que defendem, consideram superiores e ameaçados. Para os segundos, derrubar o monumento é uma etapa da luta contra um “sistema” injusto. Incluindo, evidentemente, o regime democrático que, com todas as suas imperfeições, permitiu aos americanos superar uma guerra fratricida, com 650 000 mortos, entre 1861 e 1865.

Uma das maneiras de acomodar vencedores e vencidos foi deixar que estes cultivassem a narrativa da Causa Perdida. Nesta, a secessão e a guerra, motivadas primordialmente para manter o sistema escravocrata que existia no Sul, transmutaram-se numa causa nobre, idealista e tragicamente fadada à derrota pela inferioridade numérica. Robert E. Lee, o patrício que assinou a rendição a seu ex-camarada de Exército, o menos elegante e futuro e pouco inspirado presidente Ulysses S. Grant, tornou-se alvo de veneração. A bandeira confederada eternizou-se nas varandas, em instituições públicas e nas jaquetas dos motoqueiros. Como a história é sempre mais complicada, Lee não foi inteiramente um nobre e galante herói nem inteiramente um brutal vilão escravocrata.

Em 17 de junho de 2015, quando Dy­lann Roof, um loiro de franjinha adepto do supremacismo, entrou numa igreja evangélica de Charleston e matou nove pessoas porque eram negras, a acomodação sofreu um sobressalto. A governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, decidiu tirar da sede do governo a bandeira confederada. Na época, 57% dos americanos diziam que a bandeira é um símbolo do orgulho sulista e não de racismo.

Hoje, Nikki Haley, filha de indianos, é embaixadora na ONU. Defende com equilíbrio e eloquência posições da direita tradicional. Mora na residência oficial relacionada a seu cargo, no 42º andar do hotel Waldorf Astoria, em Nova York. Dylann Roof ocupa uma cela numa prisão federal em Indiana. Foi condenado à morte. A estátua do general Lee continua no parque de Charlottesville. Poderia ser melhor para os americanos se todos permanecessem onde estão, no tempo da política, da justiça e das estátuas. A complicação: como não deixar parte da população com o sentimento de que sua história está sendo expurgada ou outra com a sensação de que a celebração do passado implica validação de princípios que de­veriam estar sepultados?

Publicado em VEJA de 23 de agosto de 2017, edição nº 2544

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.