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Maus exemplos: Cuba, Venezuela e El Salvador refletem males latinos

Ditaduras de esquerda e uma estrela da direita sinalizam por que não conseguimos nos livrar das eternas pragas que pairam sobre América Latina

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 10h38 - Publicado em 6 fev 2024, 07h15

“Em toda a história do mundo, desde que existe a democracia, nunca um projeto havia ganhado com a quantidade de votos que ganhamos este dia. É literalmente a porcentagem mais alta da história” e transforma El Salvador em um país de “partido único num sistema plenamente democrático”.

A comemoração foi de Nayib Bukele, com todos os acompanhamentos do gênero – discurso na sacada, beijo na mulher e uma novidade inexorável dos eventos públicos no momento: drones no céu. No caso, formando a letra N de Nayib.

É um mau sinal: democracia e popularidade não significam eliminar, arrasar ou tirar do mapa a oposição, seja pelas urnas, pela força ou pela cooptação.

Todo mundo já percebeu que a esquerda tem pavor de Bukele e que ele criou um sistema novo no qual a repressão à criminalidade ganhou uma projeção sem precedentes. Mas é preciso olhar o fenômeno Bukele sem ódio nem amor para entender por que ele virou ou está virando, um novo modelo autoritário. Juan Perón também era campeão de votos e popularidade – nem por isso escapou da praga latino-americana, da qual foi talvez o maior exemplo: populismo e a convicção de que ganhar eleição dá um passe livre, inclusive para acossar as minorias.

Isso não significa ignorar as razões da popularidade de Bukele. A ampla maioria da população apoia medidas restritivas ao estado de direito por interpretar que garantias democráticas estavam sendo usadas para ajudar os criminosos, criando, na prática, um estado de não-direito. A impunidade é o caminho mais garantido para deslegitimar as instituições.

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REFORMA ‘NEOLIBERAL’

Uma das medidas de Bukele foi interferir na Suprema Corte para ter um monte de amigos num lugar importante, não juízes imparciais e apartidários. Assim conseguiu driblar a proibição constitucional à reeleição.

Isso nunca é bom. Equivale, em escala menor, ao que fizeram Hugo Chávez e Nicolás Maduro na Venezuela ao aparelharem o judiciário. Foi assim que o supremo amigo confirmou a inelegibilidade da oposicionista María Corina Machado, fortíssima candidata a dar uma surra de urna em Maduro.

A farsa eleitoral ficou escancarada e Madurou tripudiou: “Vamos ganhar, por bem ou por mal”. Sabe que as sanções petrolíferas dos Estados Unidos serão retomadas, mas está pouco ligando. Já provou que pode arruinar o país, lançar a imensa maioria da população na miséria e continuar no poder: só tem que dar satisfação – e muita – aos companheiros que fatiaram o país.

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A miséria também ronda Cuba onde o presidente Miguel Díaz-Canel (com hífen, para ficar mais chique) tirou o ministro da Economia que estava fazendo um ajuste – em termos cubanos, evidentemente.

O presidente, que não tem a aura dos irmãos Castro, seus antecessores, contestou as acusações de que estaria promovendo uma reforma neoliberal – o ridículo termo que ainda faz sucesso na esquerda.

MÁQUINAS DE POBREZA

A economia cubana não tem vasos conectantes com a realidade, muito menos com a liberação das forças do mercado. Mas o aumento programado de 500% da gasolina seria demais até para uma população mantida calada por um sistema repressivo que talvez seja a única coisa que funciona bem em Cuba.

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As posições contrárias ao infeliz governo de Díaz-Canel hoje estão mais visíveis dentro do regime.

Segundo o Observatório Cubano de Direitos Humanos – de Miami, obviamente -, 72% dos cubanos vivem abaixo da linha da pobreza. Isso com mais de setenta anos de uma revolução feita em nome do povo.

Máquinas de produzir pobres, como Cuba e Venezuela demonstraram ser, são a parte mais triste de projetos que pareciam tão idealistas e criaram discursos com forte apelo para uma camada da população.

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Hoje, quem está conquistando admiradores além fronteiras é Bukele, um reflexo da nossa incapacidade de produzir desenvolvimento, segurança e instituições confiáveis, as bases mínimas para o progresso de uma sociedade, à esquerda ou à direita.

Sem isso, não tem drone que dê jeito.

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