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Maldição argentina: eles nem voltaram ao poder e já detonam

A grande vitória de Cristina Kirchner e seu poste, Alberto Fernández, nas primárias presidenciais insufla o caos habitual; peso desvaloriza, ações caem

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 12 ago 2019, 16h13 - Publicado em 12 ago 2019, 13h06

“No governo, não fazemos loucuras”, disse recentemente Alberto Fernández, o peronista clássico que Cristina Kirchner transformou de desafeto em cabeça da chapa presidencial na qual ela, com modéstia nada característica, aparece “apenas” como vice.

As eleições primárias de ontem, com 47,37% para a chapa peronista e 32,33% para o presidente Mauricio Macri – um resultado que já daria vitória no primeiro turno –, demonstraram que Fernández e sua turma nem precisam retornar ao governo para as loucuras voltarem a acontecer.

Desvalorização de 32% do peso, que já estava na respiração artificial, e queda de 65% das ações de empresas argentinas em Wall Street foram as reações mais vistosas – e dolorosas – do que está por vir quando os bumbos voltarem a soar na Praça de Maio, Cristina e seu acompanhante acenarem do balcão da Casa Rosada e os cavaleiros do Apocalipse acelerarem o ritmo.

Exceto na hipótese de que Macri conseguisse seduzir exatamente todos os eleitores dos candidatos menores, com a soma de16% dos votos.

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Embora resultado de eleição só possa ser cravado depois da contagem, nem na Argentina de todos os espantos isso é considerado possível.

Diante dos fatos, reais ou supostos, resta especular sobre um desdobramento garantido pelas leis dos homens, das mulheres e da política: quando Cristina Kirchner e Alberto Fernández vão romper?

Com seu bigodão, o jeito milongueiramente simpático e a promessa, implícita e explícita, de que não fará loucuras, Fernández já disse que Cristina tinha o perfil típico dos psicopatas, entre outras análises bastante precisas.

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Passaram quase dez anos sem se falar. Quando se reconciliaram, em 2017, combinaram “começar de novo, fazer as coisas de outro modo. O melhor que me aconteceu com Cristina é que rapidamente recuperamos o afeto que tínhamos”.

“Todos estão muito preocupados em saber como vou me dar com Cristina, nunca mais vou brigar com ela”, garante o bigodudo que visitou o apenado de Curitiba no começo de julho e saiu dizendo que a prisão dele “é uma mácula no estado de direito”.

De modo geral, Alberto Fernández entende mais de estado de torto.

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Importante: não confundi-lo com o quase xará e quase sósia Aníbal Fernández, ex-ministro da Casa Civil, entre outras atividades no coração do poder kirchnerista que o levaram a escapar do sistema prisional por prodigalidade de um juiz.

Fernández rompeu com Cristina por discordâncias sobre a política econômica – desastrosa – que seus “bonitões” conduziam, sob o comando de Axel Kicillof.

O ex-ministro da Economia também está dando a volta por cima e, nas primárias, superou amplamente a governadora da província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal.

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O estilo e a popularidade dela levaram alguns nomões da frente Cambiemos a cogitar que fosse candidata a presidente no lugar de Macri.

O resultado demonstra que o fracasso de Macri em corrigir a terra arrasada deixada por Cristina e, ao mesmo tempo, acelerar a economia – ninguém jamais disse que seria fácil – respingou sobre a governadora.

O que mais pesou, porém, foi a união da maioria das inúmeras correntes peronistas, incluindo Sergio Massa, o antikirchnerista que perdeu para Macri.

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Apesar de ter vencido as primárias, lembram, a título de consolo, desarvorados assessores presidenciais.

Diante do tsunami do peso, movido pelas perspectivas negativas de um retorno de Cristina, agora com o lugar principal dado a seu poste, o governo subiu a taxa de juros a 74%.

Pois é: 74%. E nenhuma solução à vista.

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