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Jogo imundo: Weinstein usou espiões para intimidar mulheres

Ex-agentes do Mossad contratados pelo abusador de Hollywood levantavam a ficha e faziam armações contra acusadoras do produtor

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 20h41 - Publicado em 7 nov 2017, 09h33

O caso de Harvey Weinstein está parecendo, no campo dos abusos sexuais, as investigações sobre corrupção no Brasil: quando nada mais parece capaz de provocar espanto, sempre vem mais uma surpresa.

A última é de estarrecer. O produtor que fez a fama e os Oscars da Miramax contratou uma empresa chamada Black Cube, formada basicamente por ex-agentes do Mossad, o serviço israelense de espionagem. Usou também os serviços da Kroll, mais conhecida dos brasileiros.

A missão era difícil, mas funcionou durante algum tempo: impedir que as histórias de violência sexual, conhecidas há anos como agora ficou comprovado, aparecessem na imprensa. Para isso, os agentes contratados usavam os métodos do seu ramo de atividade.

Levantavam a ficha de mulheres que poderiam comprometer Weinstein, mandavam agentes com fachada falsa para se aproximar delas e também sondavam jornalistas que estavam começando a levantar a sujeirada toda.

O oposto também aconteceu: jornalistas legítimos, pelo menos antes de se envolver nessa imundície e entrar na folha de pagamentos do abusador, entrevistavam as atrizes que tinham enfrentado o modus operandi dele: encontros em quartos de hotel, roupão, propostas e intimidação ou violência para conseguir sexo com muitas das mulheres mais belas do mundo.

Todas estas informações foram levantadas por Ronan Farrow, “furado” em alguns dias pelo New York Times na reportagem inicial, sobre Weinstein da revista New Yorker, mas esperto o suficiente para ir distribuindo informações aos poucos.

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Farrow é, famosamente, filho da atriz Mia Farrow e do diretor Woody Allen. Muita gente vê, em suas arrasadoras reportagens, uma forma de vingança contra o pai, que seduziu e depois se casou com uma filha adotiva de Mia e depois foi acusado de abusar da menina menor da estranha família.

Sem contar a possibilidade, insinuada por ela, de que Ronan seja na verdade filho de seu ex-marido, ninguém menos do que Frank Sinatra.

Não dá para inventar uma história assim. Da mesma maneira que é até difícil conceber o nível de elaboração usado por Weinstein para abafar o seu comportamento escandalosamente abusivo.

Usar advogados para fazer acordos de indenização, em troca de uma cláusula de confidencialidade, é até um procedimento comum. Weinstein fez isso também, pagando quantias relativamente baixas – no caso da atriz Rose McGowan, por exemplo, foram 100 mil dólares.

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Quase uma esmola se comparada à indenização que o ex-sabe-tudo da Fox, Bill O’Reilly, pagou a uma das mulheres que o acusavam de assédio sexual: 32 milhões de dólares. Está certo que a acusadora era Lis Wiehl, advogada formada em Harvard contratada como analista jurídica pela Fox – loira, bonitona e de busto reforçado, claro.

Segundo a reportagem de Ronan Farrow, uma contratada da Black Cube usou identidade falsa e se aproximou de Rose McGowan. Apresentando-se como Diana Filip, representante de uma grande empresa de investimentos que queria contratar a atriz para um projeto de combate à discriminação contra as mulheres.

Tiveram vários encontros, a falsa Diana sondou Rose até descobrir que ela já tinha falado a Ronan Farrow sobre a violência sexual praticada por Weinstein. A agente tentou um contato com Farrow, que não respondeu. A falsa Diana tinha sido militar em Israel e trabalhava para a Black Cube.

Com outro nome, Anna, aproximou-se de outro jornalista, Ben Wallace, da revista New York, que também estava na pista de Weinstein. Não conseguiu, embora tenha tentado, acesso a uma das autoras do furo do New York Times, Jodi Kantor.

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Um jornalista contratado pela Black Cube tentou entrevistas com Rose McGowan e Annabella Sciorra, a atriz de voz sensual que fez a amante desequilibrada do mafioso Tony Soprano na série famosa. Annabella acusa Weinstein de tê-la estuprado duas vezes.

Algumas informações sobre a vida complicada, por drogas e escândalos familiares, de atrizes que depois apareceram publicamente acusando Weinstein apareceram em notinhas de vários jornais, especialmente o New York Post.

A conexão de Weinstein com uma empresa de ex-agentes do Mossad tem um potencial explosivo: o produtor é judeu e todo mundo sabe como assuntos assim podem ser tratados.

Aliás, já estão sendo em outro caso estarrecedor: Tarik Ramadan, o intelectual adorado pelas esquerdas que fala em nome da Irmandade Muçulmana, criada por seu avô no Egito, também está sendo acusado por quatro mulheres de abuso.

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A primeira a aparecer, Henda Ayari, foi massacrada nas redes sociais como “prostituta” contratada pelos sionistas para destruir a reputação de Ramadan.

Na Inglaterra, casos de assédio estão abalando o já precário governo de Theresa May. Um ministro importante, o da Defesa, já rodou. As acusações vão do grave ao ridículo, alimentando um ambiente social distorcido, no qual todos os homens aparecem como sátiros embrutecidos e todas as mulheres como vítimas incapazes de qualquer reação quando um folgado  passa uma cantada ou arrisca uma mão boba.

Expor, enquadrar e processar abusadores é mais do que necessário. Harvey Weinstein provavelmente terá seu encontro com a justiça de Nova York por um único caso de estupro ocorrido depois que este crime se tornou imprescritível, o da atriz Paz de la Huerta.

As denúncias contra o produtor mostram um comportamento de psicopata, alimentado pelo  poder que tinha de elevar atrizes ao topo máximo de Hollywood. Outros casos, inclusive o do ator Kevin Spacey, que praticamente atacava qualquer homem que o interessasse com uma passada de mão na genitália, revelam a mesma compulsão criminosa.

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Em qualquer ambiente de trabalho, todos, homens e mulheres, sabem o limite entre a brincadeira, a cantada, os convites para um café, e as pressões, os avanços, as intimidações que entram para o campo do abusivo.

Se não sabem, é bom que estes limites muitas vezes não escritos, fiquem bem claros. A opção é um mundo em que, por causa de personalidades monstruosas como Harvey Weinstein, a convivência profissional entre homens e mulheres, como todas as vantagens que produz, inclusive um melhor conhecimento mútuo,  passe a ser dominado pela desconfiança, a rejeição e até a segregação.

Se nem o Mossad salvou Harvey Weinstein, os abusadores em geral estão encrencados. Mas os homens que amam as mulheres, e respeitam suas reações, não merecem ser proscritos junto com canalhas assim.

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