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Efeito Taylor Swift: políticos britânicos se dão mal por ingressos grátis

Partido de esquerda que se apresenta como exemplo moral dá show de hipocrisia e até coloca em questão entradas de cortesia

Por Vilma Gryzinski 11 out 2024, 07h05

O governo britânico do primeiro-ministro Keir Starmer mal chegou aos cem dias e está enfrentando uma desmoralização raramente vista. Um após o outro, seus integrantes aparecerem como incompetentes, sem noção e, pior do que tudo, aproveitadores, dispostos até a dar escolta policial reservada a membros da realeza e chefes de Estado para Taylor Swift – e depois aparecer no show da cantora, desfrutando de ingressos de cortesia.

Como os almoços, não existem ingressos grátis. Os que os distribuem sempre esperam um tratamento especial – ou cobertura favorável, no caso da imprensa, No caso dos políticos, a falência moral ficou evidente com a revelação de que a secretária do Interior, Yvette Cooper, interferiu pessoalmente para dar à cantora a segurança chamada de “VVIP”, com escolta armada e luzes piscando.

O prefeito de Londres, Sadiq Khan, também deu uma força e ajudou a vencer a relutância nas altas esferas da polícia.

Sem nenhuma surpresa, Yvette e Sadiq compareceram alegremente ao show da cantora americana.

Não foram os únicos. O próprio Keir Starmer e sua mulher, Victoria, também aproveitaram os ingressos grátis – e sem os filhos adolescentes, o que seria a única explicação racional para assistir uma cantora inteiramente fora do perfil de pessoas com mais de 50 anos, completamente envolvidas nas disputas shakespearianas pelo poder nos bastidores da política britânica e não em briguinhas de namorados.

Mas a questão não é, obviamente, de gostos musicais.

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“NEPOTISMO E AVAREZA”

As mordomias que causam escândalo, principalmente por que o governo de esquerda se pretendia um exemplo de ética e cortou o subsídio de energia que ajudava a aquecer dez milhões de aposentados no inverno, está corroendo a popularidade da administração trabalhista.

Todos os principais nomes do partido aceitaram doações de um milionário simpatizante, Waleed Alli, para comprar roupas, fazer viagens e se hospedar em propriedades de luxo dele. Starmer pegou dinheiro até para comprar óculos, uma mixaria que o desabona completamente.

Consciente do desgaste, anunciou que ele e a mulher não vão mais aceitar doações para turbinar o guarda-roupa. Mas o estrago já estava feito e muito mal. Seu índice de aprovação caiu nada menos que 45 pontos, tornando-o mais impopular ainda do que o antecessor, o tecnocrata de carisma zero Rishi Sunak, comandante do afundamento eleitoral do Partido Conservador.

A aprovação está na casa dos 24%, o que faz acreditar que mesmo eleitores mais entusiásticos dos trabalhistas, um partido visto tradicionalmente como voltado para os menos privilegiados, estão desanimados.

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Suas decisões “são cruéis e desnecessárias e não afetam nem um único de nós, membros do Parlamento, mas sim centenas de milhares de nossos constituintes mais pobres e vulneráveis”, escreveu Rosie Duffield ao anunciar que estava deixando o partido, tornando-se uma deputada sem filiação.

Ela é de uma oposição mais à esquerda, mas não deixou de notar “as revelações de hipocrisia impressionantes e cada vez mais espantosas”, além de “nepotismo e avareza fora da escala”.

MORDOMIAS CONSENTIDAS

Starmer está tentando limpar a imagem. Trocou recentemente de chefe de gabinete, tirando do mapa sua principal assessora, Sue Gray.

Numa manifestação impressionante de cinismo, ela tinha investigado os escorregões de Boris Johnson em relação ao confinamento durante a pandemia, mas também aceitou benesses de Waleed Alli – aparentemente, nem os ótimos salários convencem políticos britânicos a pagar pelas próprias roupas. O filho dela, um jovem gênio que já foi eleito para o Parlamento – impressionante como os filhos de políticos têm múltiplos talentos – também teve sua cota de mordomias.

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Devem políticos aceitar presentes e doações de simpatizantes? No Reino Unido, não é proibido, desde que declarem, mas a opinião pública está se voltando contra as mordomias consentidas.

A direita, obviamente, se aproveita da desmoralização tão rápida e da gestão altamente duvidosa. Escreveu Alllister Heath no Telegraph: “O prognóstico para a Grã-Bretanha sob o trabalhismo é desanimador: empobrecimento em massa e declínio implacável, misturados com guerra de classes e de gerações, justificados sob o argumento de ‘igualdade’, ‘moralidade’ e ‘direito internacional’”.

“Quase tudo que ainda é bom, ou pelo menos funciona, nesse país, está sendo visado para ser destruído. Temos pela frente um futuro de penúria, mediocridade, baixas expectativas, assistencialismo, conflito social e irrelevância”.

Talvez haja um certo exagero, talvez Starmer não seja tão incompetente assim, talvez Taylor Swift o convença de que possa contemplar o governo anterior, dizer “olha o que você me fez fazer” e corrigir a rota. E no próximo show dela, talvez nenhum político aceite ingressos grátis. Ou continuarão fazendo cara de “espaço em branco”?

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