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Domesticando Milei: conseguirá cumprir promessa de moderar discurso?

A linguagem cheia de insultos é uma marca registrada, mas o presidente tem que conquistar eleitores – ou eleitoras – que rejeitam isso

Por Vilma Gryzinski 8 ago 2025, 08h31

Como seria bom se todos os líderes políticos usassem a linguagem com responsabilidade e dessem bons exemplos de comportamento. Ou fossem obrigados a fazer isso por puro cálculo político, o que parece ser o caso de Javier Milei, catapultado à Casa Rosada com base num discurso agressivo, cheio de palavrões e insultos pouco compatíveis com um acadêmico formado nos princípios mais requintados do pensamento econômico. É difícil ver como ele conseguirá cumprir a promessa de deixar de falar como um caminhoneiro e ver “se eles estão em condições de debater as ideias”.

Tomara que consiga. Ideias não faltam a Milei e o projeto de reformas extremamente liberalizantes ainda se mantém de pé, apesar dos prognósticos de que há muito ele deveria ter tomado um helicóptero e sumido da Casa Rosada, deixando o país em mais uma de suas episódicas e avassaladoras crises.

Todos que fizeram previsões assim são, obviamente, “idiotas, imbecis, ignorantes”. Isso na versão mais amena. Num paciente levantamento, o jornal La Nación constatou que ele “nos últimos cem dias, deu 28 entrevistas e discursos nos quais incluiu 611 insultos”.

“Nos primeiros doze meses na Casa Rosada, o presidente desfechou 4 149 insultos e desqualificações contra quem identificou como adversários”. As metáforas – quando não as palavras nuas e cruas – frequentemente são de natureza sexual, incluindo repetidas alusões a sexo anal como forma de domínio.

BAIXO CALÃO

É claro que a imagem de autenticidade, de “dizer as coisas como elas são”, é uma faceta das múltiplas manifestações de Milei, um dos personagens mais intrigantes do panorama político atual. O estilo também combina com a maneira de falar algo escrachada dos argentinos de Buenos Aires, sob a dupla influência do baixo calão espanhol e italiano, ambos igualmente extremos. Políticos peronistas, de forma geral, raramente foram conhecidos pela contenção verbal.

“Dois em cada três argentinos consideram violenta a forma de comunicação do presidente e a desaprovam”, anotou o El País, o jornal espanhol de esquerda que torce desesperadamente pelo fracasso de Milei. “Entre os acima de 60 anos, a rejeição chega a 77%”.

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Entre as mulheres, a rejeição é maior ainda.

Milei ușa em público, e no exercício do mais alto cargo, a linguagem que se tornou corriqueira nas redes sociais. O encerramento de suas falas resume isso: “Viva la libertad, carajo”, palavras que usaremos pela última vez aqui, só para rememorar a imagem pública construída por Milei.

BATALHA CULTURAL

A linguagem chã obviamente faz parte de um contexto maior. Disse ele num discurso no mês passado, em que descreveu as três frentes de batalha de seu governo: “A frente da gestão, onde realizamos as reformas que a Argentina exige de forma urgente; a frente política, onde construímos o poder institucional necessário para tornar estas reformas possíveis; e a frente da batalha cultural, onde combatemos para promover as ideias da liberdade e derrotar as ideias do socialismo”.

“A batalha cultural é talvez a mais adversa de todas as frentes em que combatemos”. Nesse discurso, ele defendeu “certos valores de raiz judaico-cristã, o trabalho como vocação, a responsabilidade individual, a previsão e o respeito pela lei”. Invocou o Gênesis, quando “Deus dá a Abraão, quando o instala em Canaã, duas ordens: multiplicar-se e cultivar a terra. Longe de ser um obstáculo moral, a riqueza pode ser vista como uma bênção para os que são fiéis aos mandamentos”.

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“O Criador é um Deus rico e misericordioso que supre as necessidades de seus fiéis”.

“A ética do capitalismo moderno encontrou na tradição judaico-cristã um terreno fértil para desenvolver-se. Como explicou celebremente um dos pais da sociologia, Max Weber, a disciplina, a frugalidade, o trabalho duro, a poupança e o senso de vocação que o protestantismo promove concretamente funcionam como a matriz cultural da qual pode emergir o espírito do capitalismo”.

“Bilhões de pessoas foram resgatadas da pobreza, o analfabetismo foi praticamente erradicado e a expectativa de vida melhorou exponencialmente”.

MUNDO DAS IDEIAS

É uma bela discussão, da qual um presidente ilustrado como Fernando Henrique Cardoso participaria com entusiasmo. num hipotético debate com Milei. Como conciliar o autor do discurso com o presidente que chama os adversários de “mandris”, “ratazanas” e “baratas” – cucarachas, no original?

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Milei está num momento difícil, com várias derrotas na Câmara dos Deputados, onde foram aprovados gastos que batem de frente com o preceito do equilíbrio fiscal (“Perdemos todas”, admitiu um integrante do governo), com as eleições municipais e estaduais se aproximando e a eterna corda bamba do dólar enfrentando a realidade da suspensão dos controles cambiais.

Cumprindo pena por corrupção em prisão domiciliar, Cristina Kirchner continua a ser uma força política – tanto que o slogan escolhido pelo partido de Milei foi justamente “Kirchnerismo nunca mais”. No momento, os peronistas estão dez pontos à frente na província de Buenos Aires, o coração onde tudo é decidido na Argentina.

Irá um Milei mais contido verbalmente atrair os votos que evitarão uma derrota acachapante? Será mais Max Weber e menos torcedor do River Plate? Poderá a batalha cultural ser travada só no mundo das ideias e não dos xingamentos?

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