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Como a direita trumpista à la JD Vance passou a odiar a causa ucraniana

Intervenção agressiva do vice-presidente, que desandou uma reunião já tensa, culminou um processo de inversão de valores

Por Vilma Gryzinski 3 mar 2025, 08h26

O mundo deu uma acelerada brava na sexta-feira e embaralhou várias cartas.

Muita gente da esquerda está comemorando o fiasco da ruptura entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky, como se isso comprovasse seus pontos contra a Ucrânia. É estranho ver os antiamericanistas alinhados com americanos de verdade.

E alguns setores da direita estão vivendo seu momento “Até aqui cheguei”, a abertura da famosa carta em que o escritor José Saramago se afastou da ditadura cubana (com um tremendo atraso, só em 2003) por causa de uma guinada inaceitável: a traição à causa ucraniana, culminando pelo tiroteio de vice-presidente JD Vance, ao provocar um Zelensky emocionalmente descompensado e despreparado, em termos diplomáticos, para um evento tão importante.

A centro-esquerda europeia, no governo em países como a Grã-Bretanha e a Espanha, faz demonstrações públicas e corajosas de apoio a Zelensky – e de pânico em particular, especialmente pela desconstrução acelerada da aliança atlântica que salvou a Europa no pós-guerra. Grã-Bretanha e França estão tão apavoradas que propuseram um plano arriscadíssimo, de formar uma força de manutenção da paz – que, por sinal, está longe de existir.

E ainda há líderes em viés de baixa na aprovação popular que querem provocar Trump a algum gesto indutor de uma patriotada, daquelas que levantam os pontos nas pesquisas.

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São momentos perigosos em vários níveis e não se vê ninguém com cabeça fria e autoridade suficientes para “desconflituar” a situação.

Como chegamos a esta crise?

DOSES DE VENENO

Como diz o clichê, foi um processo. E um processo estranho, ao longo do qual vozes quase marginais do debate, situados em franjas da direita americana, avançaram em teses extremistas que colocavam a Ucrânia como inimiga dos interesses dos americanos, de quem arrancava dinheiro para propósitos sinistros que poderiam levar o mundo à devastação de uma guerra nuclear.

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Se alguém identifica argumentos usados maciçamente pela propaganda russa estará coberto de razão. Bizarramente, vozes que estavam mais no terreno da fantasia, embora com uma grande capacidade de persuasão, à maneira do apresentador Tucker Carlson, conquistaram a direita trumpista.

Os argumentos contra Zelensky e os ucranianos de forma geral passaram a contaminar o discurso de nomes próximos do presidente, seu filho Donald Trump Jr. e de JD Vance. Sites de enorme público, como Breitbart News e Citizen Free Press, passaram a espalhar doses crescentes de veneno contra a causa ucraniana. Espantosamente, fez efeito sobre americanos conservadores, os mais identificados com o tema da liberdade e da independência, dois componentes existenciais da resistência ucraniana.

Com um papel crescente como megafone dos recados que Trump quer dar – e talvez como um influenciador do que o presidente americano pensa –, Vance contrariou toda a sua biografia de menino pobre criado por uma mãe viciada em drogas que desafiou todas as expectativas, que foi militar, estudou em Yale e chegou ao Senado antes dos 40 anos. Quando fez campanha para senador, já desafiava a ajuda à Ucrânia, numa manifestação do isolacionismo de teor populista que hoje faz sucesso na esfera trumpista.

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‘NÃO MORDA A ISCA’

Em lugar da simpatia pela causa do mais fraco, ele se tornou crescentemente um adversário da Ucrânia até culminar com as provocações a Zelensky na fatídica reunião no Salão Oval. Em vez de conduzir a situação para ficar em posição de vantagem, Zelensky ficou mais agressivo, chamou o vice-presidente pelas iniciais de JD, como se fosse íntimo, e daí a coisa desandou catastroficamente.

O presidente ucraniano perdeu até o apoio do senador republicano Lindsay Graham, talvez o mais importante que tinha no Congresso americano. Graham lembrou que esteve oito ou nove vezes na Ucrânia, ajudando a promover sucessivos pacotes de ajuda militar. Fez um balanço devastador do “desastre absoluto” ocorrido no Salão Oval. “Não quero que Putin ganhe, mas é difícil ajudar gente que não entende o momento que está vivendo”, disparou. Ele contou também que havia avisado Zelensky: “Não morda a isca”, evitando perguntas provocadoras e uma discussão diante da imprensa que deveria registrar apenas algumas palavras mutuamente elogiosas, não um duelo verbal devastador.

Agora, é praticamente impossível recompor a relação. “Zelensky tem que renunciar ou mandar alguém com quem possamos negociar, ou precisa mudar”, disse Graham, num veredicto chocante pela crueza, mas verdadeiro no que se refere ao estado atual de extrema animosidade.

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Zelensky aguentará a pressão? Estarão Vance e o “partido antiucraniano” dispostos a sabotar qualquer movimento em direção a um desarmamento dos ânimos?

Tudo indica que sim. Vance, que credita muito de sua visão de mundo a Tolkien e seu O Senhor dos Anéis, parece ter ficado bizarramente do lado de Mordor – e não é o único do governo Trump.

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