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Cada vez pior: Chile em transe e Bolívia sem pacificação

Mas esperem, ainda tem o Grupo de Puebla, com uma coleção de derrotados que vai de Dilma a Lugo, tramando revanche da esquerda populista na América Latina

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 15 nov 2019, 07h58 - Publicado em 15 nov 2019, 07h52

Black blocs, cabelos azuis e ponchos vermelhos, todos de paus e pedras na mão, estão mantendo Chile e Bolívia em surto constante.

Os dois países se transformaram em símbolos importantes que ultrapassam seus problemas e conflitos internos.

O estável Chile, com os melhores indicadores econômicos da América Latina, está simplesmente implodindo, para alegria da esquerda que sonha com o momento em que Sebastián Piñera pegue um avião de sua ex-companhia aérea e suma do mapa.

Na Bolívia, o menos fracassado dos bolivarianos já pegou o avião, enviado pelo México.

Mesmo assim, Evo Morales ficou horas no Paraguai, sem autorização para sobrevoar o espaço aéreo boliviano.

Só conseguiu ir para o exílio porque o Brasil autorizou que o avião militar mexicano cruzasse seu espaço aéreo.

Uma ironia, certamente, mas com a intenção clássica de ajudar na pacificação do país.

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Está difícil. Com metade da Bolívia em estado de rebelião popular, militares e policia aquartelados, Evo foi um cordeirinho na hora de renunciar.

Em questão de horas, virou lobo e incitava a resistência, o que continua a fazer no México.

Os “ponchos vermelhos” e outras organizações indígenas e sindicais, suas bases de apoio, estão nas ruas – bloqueadas, como sempre.

A reação pode ser interpretada mais como vingança em massa, com episódios bárbaros, mas a realidade é mais complicada.

Numa situação bizarra como só a América Latina consegue produzir, o congresso boliviano continua a ter grande maioria do partido de Evo, o MAS, Movimento para o Socialismo, e alguns ministros do governo dele continuam a se considerar em funções.

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A nova presidente, Jeanine Áñez, uma senadora da oposição a Evo que ocupou o espaço deixado pela vacância em série, montou um governo novo e renovou a cúpula militar.

No papel e com a força armada, seguindo a hierarquia, a seu lado, tem legitimidade. Na prática, isso ainda terá que ser comprovado.

Só para dar uma ideia do tamanho da encrenca: ela tem que convocar eleições presidenciais, visto que a ilegitimidade por fraude em escala maciça foi o empurrão para a fuga de Evo.

Mas o que o impediria de ser candidato? Como seria um retorno à Bolívia? E se nomeasse um preposto?

REENCARNAÇÃO

Nem a mais inocente das almas tem o direito de imaginar que isso não está sendo tramado em escala internacional.

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Aliás, nem a esquerda populista faz nada para esconder. Inclusive porque o internacionalismo sempre foi um dos fundamentos dos movimentos de esquerda.

Como numa reencarnação do Foro de São Paulo, apareceu do nada o chamado Grupo de Puebla.

O encontro foi na Argentina, onde a “reconquista” foi pioneira com a vitória de Cristina Kirchner, perdão, Alberto Fernández.

Entre os presentes, Dilma Rousseff, Fernando Lugo – o ex-bispo cheio de filhos que foi presidente do Paraguai até uma saída à la Evo, sem a parte do quebra-quebra – e Ernesto Samper, outro ex-presidente, da Colômbia, que foi ficando mais esquerdista com o tempo.

O vice-presidente boliviano, que cairia fora dias depois, também estava lá.

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Mais: Fernando Haddad e Marco Enríquez Ominami, candidatos derrotados, mas bem votados, no Brasil e no Chile.

Ominami, filho de um dos fundadores do MIR, o grupo castrista que mesmo antes do golpe militar já praticava ataques armados, foi criado no exílio na França e, hoje, seria de esquerda soft no Chile, tamanha a radicalização e a violência de caráter anarquista do quebra-quebra.

É claro que o Grupo de Puebla, uma espécie de contraponto ao Grupo de Lima, tem sintonia com Venezuela e Cuba.

Em circunstâncias já comprovadas, a sintonia vai além da identificação ideológica e do planejamento tático e estratégico conjunto.

Um pequeno sinal: quatro cubanos do Mais Médicos boliviano, chamado Brigada Médica Cubana, foram detidos por atividades que não tinham nada a ver com atendimento ambulatorial ou similar.

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Um levava uma mochila com o equivalente a 13 mil dólares. Outro nem médico era.

Entenderam bem?

Christian Slater Escanilla, coronel chileno reformado, defendeu no site Ojo Digital, da direita que sabe escrever, argumentar e dizer seu nome bem alto, que a situação atual no Chile, e antes dele no Equador e no Peru, é de “guerra híbrida e não de escaramuças com aqueles que praticam atos de vandalismo”.

“Estes indivíduos operam, no melhor dos casos, como idiotas úteis de um plano estratégico liderado pelo eixo Cuba-Venezuela.”

“Trata-se de um plano cuja meta é sabotar a confiança dos cidadãos chilenos em suas instituições, provocando irrupção nos poderes do Estado, desconfiança face à gestão e à liderança do governo e promovendo a desqualificação contra a ordem estabelecida na Constituição – ao mesmo tempo em que se constrói um ataque sistemático contra o ecossistema empresarial do Chile.”

A linguagem evoca, inevitavelmente, a situação pré-golpe no Chile. É uma tristeza ver tamanha regressão. E mais triste ainda ver que os paranoicos algumas vezes têm razão.

“A meta final é influir no processo de tomada de decisões de um governo e de seu presidente”, escreveu Slater.

Depois de soltar dinheiro para aposentadorias, entre várias medidas contrárias à doutrina de equilíbrio fiscal, e mudar o ministério, Sebastián Piñera jogou a última carta: a convocação de uma Constituinte.

Ontem o Congresso votou para que uma nova Constituição, sob o signo da paz social, seja submetida a plebiscito em abril do ano que vem.

É uma medida, obviamente, desesperada. O Chile não precisava de outra Constituição antes da explosão dos protestos e continua não precisando.

A prova definitiva será vista a qualquer momento.

Se as garotas de cabelo azul e os black blocs pararem as depredações em massa, é porque eram, na verdade, especialistas em assuntos constitucionais que estavam expressando suas frustrações acadêmicas de forma um pouco mais enfática.

Se não pararem…

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