Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

A nova desordem mundial

Rússia e China contestam sistemicamente o consenso dominante

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 jun 2024, 12h35 - Publicado em 19 fev 2022, 08h00

Se o leitor pudesse entrar na pele — de lobo, obviamente — de Vladimir Putin e olhasse para os Estados Unidos e a Europa, a mais rica, livre e avançada combinação de países da história, veria o quê? Provavelmente sociedades enfraquecidas pela prosperidade sem precedentes, tão afluentes que se dão ao luxo de discutir designações para os 76 gêneros correntemente reconhecidos e desprezar qualquer coisa que lembre pátria, senso de identidade e de propósitos comuns ou outros sinais de ignorância nacionalista, tal como são considerados pelas elites bem-pensantes. Os confortos materiais refletem-se num consenso civilizado: guerras são coisa do passado e ninguém, nem mesmo os militares profissionais, deve morrer nelas. A Ucrânia inteira, para chegar ao assunto que nos trouxe até aqui e relembrar Bismarck, o construtor da unificação alemã, não vale os ossos de um único fuzileiro alemão, francês, inglês ou até mesmo americano, da cepa dos últimos guerreiros. Nesse mundo sob o olhar de Putin, os Estados Unidos têm um presidente senil, o primeiro-ministro britânico pode cair por causa de festinhas depois do trabalho e o chanceler alemão é resistente como uma fatia de bolo floresta negra. Os flexíveis latino-americanos nem contam. Por não se permitir líderes cheios de defeitos públicos nem aventuras democráticas, a ordeira e disciplinada China caminha para se tornar uma superpotência hegemônica, na certeza de que dinheiro compra países inteiros, que dirá políticos isolados.

“Bismarck: ‘Só um tolo aprende com seus próprios erros; eu prefiro aprender com os erros dos outros’”

É nesse mundo segundo Putin que surge a oportunidade para a Rússia sair do rebaixamento. Com adversários bem alimentados — cada vez mais com um cardápio à base de superfoods da moda —, aquecidos — cada vez mais com gás russo — e complacentes — cada vez mais avessos a riscos —, vamos ver quem pisca primeiro. Quem não cobrir a aposta da força bruta vai automaticamente para o paredão das potências em declínio. E abre a porta para um processo irreversível: a desconstrução da ordem que parecia incontestável há três décadas, quando a União Soviética cedeu sob o peso do encarquilhamento comunista e a China selou sua entrada na abertura econômica. Tudo isso só poderia redundar em países que acabariam por aderir, mesmo à sua maneira, ao modelo democrático ocidental, cuja superioridade estava definitivamente comprovada.

Essa ordem triunfante hoje é organicamente contestada. A China diz que tem um sistema muito melhor e aponta um modelo para os países periféricos, que nunca chegaram a ter as condições que fizeram a glória das democracias liberais. E a Rússia de Putin chama para a briga adversários que não querem nem pensar em perder a conexão do celular, que dirá entrar numa guerra. É esse o dilema que a quase irrelevante Ucrânia coloca não apenas para os países grandes e poderosos do Ocidente, mas para todos os que não aceitam que a lei do mais forte, seja pela agressão pura e simples, seja pela ameaça dela, possa ser imposta na marra, atropelando a soberania e a autodeterminação, valores que o mundo consolidou a preço de sangue depois da II Guerra.

Continua após a publicidade

Hora de lembrar de Bismarck de novo: “Só um tolo aprende com seus próprios erros; eu prefiro aprender com os erros dos outros”.

Publicado em VEJA de 23 de fevereiro de 2022, edição nº 2777

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.