Promoção do Ano: VEJA por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

A batalha da testosterona

Mulher trans contra mulheres biológicas é disputa sem igualdade

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 jun 2024, 13h30 - Publicado em 2 jul 2021, 06h00

Pierre de Coubertin criou praticamente uma seita ao fundar os Jogos Olímpicos modernos. Mais do que ressuscitar os legendários jogos da Antiguidade, almejava o aperfeiçoamento espiritual dos atletas, saídos na época das escolas onde a educação física era uma novidade relativa, vinda sobretudo da Inglaterra. Daí as muitas frases da família “o importante não é ganhar, é competir” e a centralidade do espírito esportivo, baseado nos conceitos de competição leal e em pé de igualdade. É por causa desse grande arcabouço estrutural que a participação da neozelandesa Laurel Hubbard na disputa de levantamento de peso tem um aspecto perturbador. Hubbard era homem até os 34 anos e leva para a competição com mulheres biológicas as vantagens físicas do sexo ao qual diz não mais pertencer em matéria de massa muscular, densidade óssea e capacidade respiratória e cardíaca. Para ser aceita na categoria feminina, cumpriu as exigências do Comitê Olímpico sobre o nível de testosterona, o hormônio da explosão física e do desejo sexual — por isso mesmo, estritamente vigiado nos testes de dopping.

“‘O importante na vida não é a vitória, mas o combate’, diria o barão Pierre de Coubertin”

Estará assim Laurel Hubbard em igualdade de condições com as outras competidoras? Os pesquisadores Emma Hilton e Tommy Lundberg, ela inglesa, ele sueco, fizeram um estudo para analisar justamente o peso da supressão da testosterona em atletas trans. Conclusão: os homens biológicos têm uma vantagem de 30% sobre as mulheres idem no levantamento de peso. O tratamento para diminuir os níveis de testosterona ao longo de doze meses, o prazo fixado pelo COI, diminui essa vantagem em apenas 5%. “Portanto, a vantagem muscular desfrutada por mulheres transgênero é reduzida apenas minimamente quando a testosterona é suprimida”, concluíram. Claro que, num assunto tão novo e controvertido, outros cientistas podem ter conclusões diferentes — a ciência é feita justamente de propostas conflitantes, submetidas ao crivo das experiências e do escrutínio dos pares.

Mas o caso de Laurel Hubbard e de outras atletas trans que competem com mulheres com cromossomos XX deixa a impressão de que, para compensar as conhecidas e até trágicas injustiças sofridas por aquelas pessoas que não se identificam com seu sexo biológico, outra injustiça está sendo cometida. Uma justifica a outra? Até mesmo fazer esta pergunta pode ser perigoso num mundo em que o adjetivo “transfóbico” se transformou em arma para cassar a palavra e até a carreira de quem não segue os estritos preceitos do evangelho politicamente correto. O patrulhamento é tamanho que Debbie Hayton, mulher trans, professora e militante do Partido Trabalhista britânico, foi ameaçada de expulsão por defender a especificidade de sua condição. “Estou cansada de ouvir que mulheres trans são mulheres e homens trans são homens. Simplesmente não é verdade”, desafiou ela. “Eu não sou mulher nem LGB, sou transexual. Esses três grupos enfrentam opressão e oposição na sociedade e somos mais fortes quando fazemos uma frente comum.” Tem de ter testosterona moral para enfrentar uma plateia de esquerda com ideias assim. “O importante na vida não é a vitória, mas o combate”, diria o barão Coubertin.

Publicado em VEJA de 7 de julho de 2021, edição nº 2745

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

3 meses por 12,00
(equivalente a 4,00/mês)

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.