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Denunciado à polícia, ex-curador do Jabuti nega racismo na Flip

Goldfarb foi citado em boletim de ocorrência feito em Paraty por funcionária da Patuá que se sentiu ofendida por sua cor. ‘Ela entendeu errado’, diz ele

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2018, 17h15 - Publicado em 29 jul 2018, 17h25

José Luiz Goldfarb, 61 anos, 23 deles na curadoria do Prêmio Jabuti, um dos mais prestigiados do país, teve seu nome impresso em um boletim de ocorrência no 167º Distrito Policial de Paraty, em um caso em que é acusado de racismo por uma funcionária da editora Patuá, de São Paulo.

Sara Cristina Trajano da Silva afirma que Goldfarb a ofendeu quando tiveram um entrevero na última sexta-feira, em torno de um evento paralelo à 16ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Segundo Sara, ele disse: “É por pessoas como você, morenas, que o mundo está ficando pior”. O ex-curador, hoje na direção da Educ, a editora da PUC-SP, alega que a frase foi outra. “Eu falei que era por pessoas progressistas estarem sendo autoritárias que o mundo estava se tornando pior.”

Sara rejeita a versão e diz ter testemunhas que corroboram o que escutou. “Não ouvi isso de autoritarismo, pessoas que estavam em volta também não. O que eu disse, que ele falou que o mundo não ia para frente por causa de pessoas da minha cor, é real, e testemunhas confirmam.”

O entrevero entre Sara e Goldfarb se deu em torno do local onde a Educ promoveria uma mesa de debates na Casa do Desejo, espaço coletivo organizado pela Patuá em Paraty, com a participação de editoras menores e independentes. Goldfarb, que seria o mediador, pediu que mesa fosse transferida do interior da casa para o jardim, porque era mais agradável e haveria o eclipse da lua no céu.

Segundo ele, Sara respondeu que havia um evento programado para o jardim naquele horário e pegou o celular para mostrar. “Ela não achou nenhuma programação no celular, mas não deixou que a mesa mudasse de lugar. Eu disse, ‘Você está sendo extremamente autoritária. É por causa da atitude autoritária de pessoas como você que o mundo está ficando pior’”, diz. “Afinal, se as pessoas legais, progressistas, de mente aberta, se tornam autoritárias, o mundo está perdido. Foi isso o que eu tentei dizer a Sara. Em nenhum momento, eu disse que ela era ‘morena’. Mas realmente me exaltei”, reconhece o editor.

“Eu estava irritadiço, porque desde terça-feira houve uma série de problemas de organização por parte da Patuá, como uma casa que a editora alugou para eu e um grupo nos instalarmos em Paraty, em que faltava uma cama. E desde o primeiro contato a respeito desses problemas, por telefone, a Sara foi linha dura comigo”, diz Goldfarb, que é judeu e chegou a provocá-la com um “Heil, Sara”.

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Sara confirma os atritos. “Tivemos pequenos atritos desde terça, e na sexta aconteceu esse incidente em que ele foi super arrogante e grosso. Infelizmente, eu cumpro ordens, sou funcionária da editora Patuá. Ele me ofendeu de maneira muito culta em relação à minha cor”, diz.

Goldfarb disse que chegou a mencionar, durante a discussão, a atitude autoritária que um segurança teve com ele em Paraty, e que nesse momento pode ter usado a palavra “moreno” para se referir ao rapaz, o que pode ter levado Sara a confundir as frases. “Eu estava nervoso, então não lembro com segurança as palavras que usei, mas tenho certeza de que não chamei Sara de morena”, diz. “Eu tenho 30, 40 anos de trabalho junto a movimentos sociais, pode falar com as pessoas que conheci pelo caminho. Nunca imaginei na vida ser chamado de racista.”

Goldfarb diz que tentou se aproximar de Sara para se explicar e pedir desculpas, mais tarde, fora da casa, mas foi cercado por pessoas que gritavam “racista”. “Me senti péssimo.”

Sara admite a tentativa do editor da Educ de pedir desculpas. “Ele tentou se desculpar, mas acho que eu não sou obrigada aceitar as desculpas”, diz. “Também não gostei muito da repercussão porque não queria estragar a festa, não queria essa exposição. Mas acho que comportamentos assim não podem sair impunes.”

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Flip se posiciona

Neste sábado, a organização da Flip divulgou um comunicado em que pedia a substituição “do representante” da Educ na Casa do Desejo. “A Flip repudia todo e qualquer ato de violência, racismo e discriminação. A organização da Festa Literária recomendou aos organizadores da Casa do Desejo a substituição do representante da editora da PUC-SP em seu espaço, enquanto segue acompanhando o caso nos próximos dias”, diz o texto, sucinto.

Goldfarb se queixa de não ter sido ouvido em nenhum momento pela organização do evento. “Eles não me consultaram. Eu conheço o Mauro Munhoz (diretor da Flip) há anos, já estive em muitas edições da Flip, achei estranho não terem nem me procurado.”

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A Flip repudia todo e qualquer ato de violência, racismo e discriminação.A organização da Festa Literária recomendou aos organizadores da Casa do Desejo a substituição do representante da editora da PUC-SP em seu espaço, enquanto segue acompanhando o caso nos próximos dias.

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Nota da Educ-PUC

A PUC enviou nota para VEJA, que pode ser lida abaixo:

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“A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo reitera que repudia toda e qualquer forma de manifestação racista e discriminatória, contra membros de sua comunidade universitária e qualquer cidadão. Em relação ao episódio envolvendo o diretor da Educ, professor José Luiz Goldfarb, ontem, na Casa do Desejo, que tem programação paralela à Flip, a Instituição lamenta o ocorrido e irá tomar providências em relação a apuração dos fatos.”

(Com Luísa Costa)

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