Confira trecho do novo livro do autor de ‘O Tigre Branco’
O escritor indiano Aravind Adiga, vencedor do Man Booker Prize de 2008 com O Tigre Branco, está de volta com um novo romance, O Último Homem na Torre (tradução de Vera Ribeiro, Nova Fronteira, 432 páginas, 39,90 reais), cujo primeiro capítulo pode ser conferido com exclusividade no blog VEJA Meus Livros. Lançado na última semana […]
O escritor indiano Aravind Adiga, vencedor do Man Booker Prize de 2008 com O Tigre Branco, está de volta com um novo romance, O Último Homem na Torre (tradução de Vera Ribeiro, Nova Fronteira, 432 páginas, 39,90 reais), cujo primeiro capítulo pode ser conferido com exclusividade no blog VEJA Meus Livros. Lançado na última semana no Brasil, o livro retrata um complexo habitacional de Mumbai, na Índia, que abriga diversos moradores de classe média que convivem como se fossem parte de uma mesma família.
A paz do lugar é perturbada com a chegada de Dharmen Shah, um magnata do mercado imobiliário que tem interesse em construir um prédio de luxo no terreno onde fica o conjunto. O local é cercado por favelas e não possui água corrente o tempo todo, mas é adorado por seus moradores. Quando Shah faz uma oferta em dinheiro às pessoas que habitam a construção, o aposentado Masterji se dispõe a enfrentá-lo em nome da vida em comunidade.
Jornalista de economia, Aravind Adiga aborda no livro questões econômicas da Índia, país onde nasceu e onde atuou como correspondente para a revista americana Time. Seu livro mais conhecido, O Tigre Branco (Nova Fronteira), vendeu 200 milhões de cópias no mundo inteiro.
Se você perguntar pela sociedade Vishram, logo lhe dirão que ela é pucca — completa e irrepreensivelmente pucca. É importante assinalar isso, porque há algo não muito pucca no bairro — essa unha do dedão do pé de Santa Cruz, chamada Vakola. No mapa de Mumbai, Vakola é um aglomerado de pontos indefinidos que aderem feito pólipos à parte inferior do aeroporto; no solo, os pólipos se revelam favelas e se espalham por todos os lados da sociedade Vishram.
Toda eleição, quando Mumbai faz um balanço de si mesma, informa-se que um quarto das favelas da cidade se encontra ali, nas imediações do aeroporto, e muitos dos residentes mais antigos de Bombaim têm certeza de que tudo em Vakola ou em seus arredores deve ser favelizado. (Eles nem sabem direito como se pronuncia o nome, se é Va-KO-la ou VAA-k’-la.) Num bairro tão questionável, a sociedade Vishram está ancorada como um encouraçado de respeitabilidade burguesa, pronto para disparar em qualquer um que pretenda impugnar a qualidade pucca de seus residentes. Durante anos, foi o único bom prédio — ou seja, a única sociedade cooperativa registrada — do bairro; foi construído como uma experiência de reurbanização nos idos do fim da década de 1950, quando Vakola era quase um pântano: um punhado de mansões luminosas em meio a manguezais e nuvens de malária. Corriam boatos de que javalis e quadrilhas de assaltantes espreitavam junto às figueiras-de-bengala e de que os riquixás e táxis se recusavam a ir lá depois de escurecer. Em sinal de agradecimento aos pioneiros da sociedade Vishram, que desafiaram os bandidos e os mosquitos anófeles, enfrentaram a estrada de terra em suas bicicletas e motonetas Bajaj, derrubaram as árvores, construíram um muro grosso em volta do condomínio e nele penduraram placas em inglês, os políticos locais decretaram que a rua que vai da estrada principal até o portão de entrada do prédio se chamaria “alameda sociedade Vishram”.
Os manguezais há muito desapareceram. Agora já foram erguidos outros edifícios de classe média — o melhor deles, dizem os corretores locais, é a sociedade Moeda de Ouro, porém a fama do Malmequer, do Hibisco e do Rosa Branca têm crescido cada vez mais —, e, com a chegada recente do Grand Hyatt Hotel, um estabelecimento cinco estrelas, a área está em vias de amadurecer como uma propriedade burguesa permanente. Mas nada disso seria possível sem a sociedade Vishram, e em toda a vizinhança se fala com reverência desse condomínio-matriz.
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