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Assim como Millôr, Flip 2014 é pop e contestadora

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Por Simone Costa
Atualizado em 13 ago 2018, 16h27 - Publicado em 30 jul 2014, 10h13

A 12ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começa nesta quarta-feira, 30 de julho, e promete ter como um dos principais eixos a crítica ao poder. Em paralelo, essa edição mostra uma faceta mais pop da festa, com nomes como a atriz Fernanda Torres, o humorista Gregório Duvivier (Porta dos Fundos), o escritor Antonio Prata e os humoristas Hubert e Reinaldo, ambos do Casseta & Planeta. O tom, tanto político quanto pop, honra a escolha do homenageado, o intelectual multifacetado Millôr Fernandes. Colunista de VEJA entre 1968 e 1982 e entre 2004 e 2009, Millôr foi escritor, poeta, desenhista, jornalista, humorista, tradutor, dramaturgo e cenografista.

“Nesta edição, se há algo de pop, talvez seja por causa do próprio Millôr. A Flip sempre teve autores ecléticos. Nossa proposta não é ser um festival de letras eruditas. A mistura é nosso objetivo, tanto que há autores como o professor de astrofísica Paulo Varella ou o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro”, diz o novo curador da Flip Paulo Werneck, que substitui Miguel Conde, responsável pelas duas últimas edições. “Millôr fazia uma popularização da literatura por meio das ilustrações. Acho que com ele a Flip se aproxima mais do leitor”, afirma o autor convidado Antonio Prata.

Criada em 2003, a Flip já homenageou escritores como Carlos Drummond de Andrade (2012), Machado de Assis (2008), Jorge Amado (2006), Guimarães Rosa (2004), entre outros. Em 2013, o escolhido foi Graciliano Ramos, que já trazia com seu nome um peso político — por seu histórico em cargos públicos e por sua literatura, que aborda importantes questões da sociedade. Ao mesmo tempo, a edição passada da festa literária em Paraty repercutiu com intensidade os protestos que tomaram conta do Brasil em junho, o que causou uma overdose de discussões políticas.

Este ano, o lado da contestação promete dar mais atenção ao cenário internacional, com nomes como o russo Vladímir Sorókin, crítico do governo de Vladimir Putin; o americano Glenn Greenwald, autor de uma série de reportagens feitas a partir de documentos secretos dos Estados Unidos vazados pelo ex-analista de informática da CIA Edward Snowden; e a argentina Graciela Mochkofsky, autora do livro Pecado Original, sobre a guerra entre Cristina e Néstor Kirchner e o grupo de comunicação Clarín. A mesa da qual vai participar Sorókin, ao lado da ensaísta americana Elif Batuman, não tem como tema principal a política, mas impossível não entrar nessa questão ao tratar da tradição literária russa. Outras mesas, ainda que com temas diversos, também devem abordar aspectos do tipo. “A minha mesa será atípica. Um poeta marginal (Charles Peixoto), uma jornalista corajosa (Eliane Brum) e eu, um humorista e poeta. Vamos falar de poesia, de sensibilidade e de literatura, mas não vamos fugir das questões políticas porque nós três temos um engajamento, uma responsabilidade social”, diz Gregório Duvivier, que estará na mesa Poesia & Prosa.

Nos últimos anos, o número de poetas e ficcionistas diminuiu dentro da programação do evento. Em 2012, dos 43 convidados, mais de 30 eram poetas ou romancistas. No ano passado, entre os 41 participantes, a metade era formada por eles. Este ano, dos 47 nomes que estarão na Flip, 19 são poetas ou autores de ficção. Apesar da diferença, Werneck não vê um desequilíbrio entre os convidados desta edição. “Desde o início, a Flip traz autores de ficção e de não-ficção. Acredito que conseguimos reunir alguns dos autores de ficção mais inventivos do mundo atual. Etgar Keret, Juan Villoro, Jhumpa Lahiri, Sorókin são exemplos disso”, diz. “Talvez não venha aquele autor que seja referência para o leitor brasileiro, mas houve uma intenção de apresentar novos nomes, gente que é importante lá fora, mas que no Brasil ainda não é conhecida”, completa.

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Para Bernardo Ajzenberg, diretor executivo da editora Cosac Naify, a Flip reflete o que está acontecendo em termos de publicação no país. Como o mercado vive uma experiência de diversificação de temas, logo, é plausível que o perfil dos autores convidados passe pelas mesmas mudanças. “O Brasil está voltando os olhos para a produção latino-americana, como é o caso do chileno Jorge Edwards, e para autores pouco conhecidos aqui, como o português Almeida Farias, que volta a ser publicado no nosso país duas décadas depois”, diz.

Este ano, pela primeira vez, quem não conseguir ingresso para as mesas poderá acompanhar gratuitamente a transmissão ao vivo da programação principal no telão, na praça da Santa Casa. O show de abertura da Festa, com a cantora Gal Costa, também será gratuito e acontece nesta quarta, na praça da Matriz.

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