Show de horrores em debates de SP se compara a Collor x Lula em 89?
Cadeiradas e socos são a nova triste lição que esses encontros têm dado à democracia brasileira
O que aconteceu com os debates eleitorais brasileiros? Se aquele entre Collor e Lula em 1989 ainda ecoa como uma vergonha para o início da democracia brasileira, o show de horrores nas eleições municipais em São Paulo deste ano parece ainda mais degradante.
Há 35 anos edições do debate tentavam exaltar o direitista e afundar o esquerdista. A técnica de Collor foi a de falar, nos encontros, da vida pessoal de Lula para assim desestabiliza-lo.
Hoje a tentativa é a de criar conflitos que levem aos pequenos cortes e permitem a lacração nas redes sociais. Os confrontos entre candidatos surgem como um espelho sombrio do que pode vir a ser a próxima eleição presidencial.
Aliás, não é mais segredo.
Quem tem ideias propositivas é totalmente superado em atenção do público, na cidade de São Paulo, por manobras grotescas para capturar todos os olhos e os espaços na mídia.
Nem violências como cadeiradas, socos e pontapés serviram de basta. Tiveram o efeito reverso.
Mas o que fazer além de aparafusar cadeiras?
O país precisa urgentemente resgatar o debate democrático para que ele volte a ser um momento de conhecimento das ideias de cada postulante ao cargo.
A imprensa, por exemplo, ainda não sabe como lidar com o quadro atual.
Se usar critérios subjetivos para afastar candidatos (por exemplo, um tumultuador profissional) ela estará sendo autoritária. Se aceita a participação de pessoas como Padre Kelman ou Pablo Marçal, eles constroem palcos e, sem ideias, distorcem o motivo do evento.
Padre Kelman acabou neutralizado pela união dos outros candidatos. Ele queria provocar Lula e conseguiu, mas acabou definido como padre de festa junina por Soraya Thronicke que, assim como o “ministro religioso”, é de direita.
No caso de Marçal, os outros nomes do pleito não conseguiram neutralizá-lo. E os debates viraram uma discussão sobre a última treta do ex-coach.
Enquanto a solução não chega, o país segue sendo tragado pelo discurso de ódio nas eleições – eleições estas que, a depender do que acontecer, podem ser o laboratório do inferno para 2026.