Há quatro meses, a coluna “apresentou” Lula a Marina Silva ou Maria Osmarina a Luiz Inácio.
O texto mostrava que há muitas coisas em comum entre os dois líderes políticos, mas lamentava que eles haviam perdido uma oportunidade de ouro de se encontrar após longos anos de afastamento.
Pois bem. Neste domingo, 11, isso mudou.
Após o convite do líder absoluto das pesquisas ao Palácio do Planalto, Marina foi ao encontro do petista – de quem foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008 – desprendida de qualquer sentimento de rancor.
É que o gesto de aproximação pode ter sido de Lula, mas a altivez foi inegavelmente da ambientalista.
Marina Silva apresentou uma lista de propostas “para um Brasil mais sustentável” ao líder do Partido dos Trabalhadores, a mesma legenda que, na campanha de 2014, fez mentirosas afirmações sobre seu passado e seu futuro político.
Não dá para dourar a pílula.
Atacada na campanha presidencial há oito anos, quando o PT buscava reeleger Dilma Rousseff a qualquer custo, Marina Silva viu o seu antigo partido fazer uso (contra ela) de um conhecido e covarde expediente: o de amedrontar e aterrorizar o eleitor.
É justamente o que a direita já fez em inúmeras eleições contra a esquerda. O próprio Lula foi vítima disso, e continua sendo na eleição deste ano. Há alguns dias, Bolsonaro disse que se Lula ganhar não haverá nem cachorro para comer no Brasil, “como acontece na Venezuela”.
Em 2014, contudo, o PT fez uma propaganda eleitoral mostrando uma cena em que banqueiros riam e uma família pobre perdia os pratos de comida, com as expressões de felicidade se transformando em tristeza, caso Marina fosse eleita.
A mulher, negra, seringueira da região norte do Brasil, analfabeta até os 16 anos, mas que se transformou em uma das primeiras mulheres a carregar a bandeira olímpica, caminha hoje mais uma légua pela paz.
Sem olhar para o passado, a ambientalista, hoje candidata a deputada federal por São Paulo – e que já teve obteve mais de 40 milhões de votos em eleições presidenciais – apoiará Lula num gesto de grandeza, que, na minha opinião, deveria ser acompanhado de um pedido de desculpas do petista.
Era ainda 2009 quando Marina se afastou do PT ao ver a política ambiental do seu ex-partido claudicar. Nas palavras dela em entrevista a este colunista, estava entrando em retrocesso. Foi a primeira forte crítica pública dela ao PT, e também a primeira sinalização de que poderia ser candidata à presidência da República.
Em outra entrevista, meses depois, ela confirmaria sua intenção de concorrer ao Palácio do Planalto, trazendo oxigênio puro para a campanha eleitoral de 2010, quando arrastou multidões e milhares de votos.
Nesta segunda, 12, Marina – ao compreender a gravidade do que está em jogo no Brasil em caso de nova vitória de Jair Bolsonaro – dará um abraço em Lula sem olhar para aquela triste lembrança. Apoiará o PT, mais do que tudo, para tentar evitar que a boiada bolsonarista passe de vez em diversos biomas brasileiros, mas especialmente o da Amazônia.
Foi de lá que ela saiu do Seringal Bagaço, a pé pela mata, para fugir da miséria e lutar pelo Brasil.