Após cem dias do início do terceiro mandato presidencial de Lula, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu já afirmou que serão necessários cerca de doze anos de uma aliança desenvolvimentista para conseguir avançar em questões e políticas que foram descontinuadas durante o governo Bolsonaro. Ou… para conseguir se igualar a grandes potências mundiais.
Ele está certo. Em parte…
Figura política controversa da história do Brasil, José Dirceu é um velho aliado de Lula, grande responsável por sua primeira vitória política nas urnas e que, devido a diversas acusações e condenações por corrupção, caiu em descrédito para parte da sociedade brasileira.
No entanto, ele ainda entende muito de política e possui muito peso entre a ala mais radical do PT, sendo responsável por passar as mensagens e opiniões mais polêmicas desses representantes.
Assim, a mensagem de Dirceu é clara: quatro anos serão insuficientes para resolver as questões problemáticas do país, algumas herdados da gestão interior, outros do próprio PT.
Segundo ele, “o problema principal do Brasil é a concentração de renda e a estrutura tributária, que ao invés de distribuir e alocar recursos, faz a concentração. Além disso, temos também a questão dos juros, do rentismo e da dívida pública”. Por isso, um segundo momento do governo federal deve ser a reforma tributária para combater essa realidade.
Por mais que demonstre fidelidade com o principal rito da democracia, que é a alternância de poder, afirmando que não está pensando em governos sucessivos do PT e sim de uma aliança nacional em prol do desenvolvimento do Brasil, uma declaração como esta não é bem vista, ainda mais em pouco tempo de governo.
José Dirceu falava à RedeTV pensando na ampla aliança que elegeu Lula para o terceiro mandato, da esquerda até a centro-direita, exatamente como ocorreu no segundo turno das eleições de 2022.
É de conhecimento público que a extrema-direita não é democrática e capaz de gerar riscos diversos riscos ao Estado Democrático de Direito. A ideia de perpetuação do poder do bolsonarismo só pode ser definida como pesadelo
Dirceu, por sua vez, não vê outro nome para 2026 a não ser uma candidatura à reeleição de Lula, excluindo a possibilidade de outras alianças entre partidos democratas, que não sejam encabeçadas pelo PT. Isso porque, na visão do ex-ministro de Lula, outro grupo de esquerda ou de centro seria incapaz de derrotar o projeto bolsonarista, que ainda não foi extinto.
Ou seja, fica claro de que existe um consenso até mesmo dentro da ala mais radical do PT de que é necessário uma união entre governo, empresariado e Congresso para conseguir recuperar a estabilidade e coesão nacional. E que eles não evoluíram muito, mantendo aquela ideia fixa de que só o PT pode salvar… ou tem a hegemonia da democracia.