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Militares aceitaram entrar no governo, mas não querem críticas
Por Matheus Leitão
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8 jul 2021, 10h36 • Atualizado em 8 jul 2021, 12h22
Comandantes das Forças Armadas ao lado do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, nos anos bolsonaristas (Alexandre Manfrim/Divulgação)
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A nota emitida pelas Forças Armadas nesta quarta-feira, 7, mostra uma realidade já anunciada: os militares querem entrar no governo, participar da política, num governo cheio de controvérsias e erros, como o de Bolsonaro, mas não aceitam ser criticados.
Ao reagirem à fala do presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), os militares enfatizaram que não aceitarão “qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”. Apesar de parecer que estão defendendo as instituições, as Forças Armadas não se levantam quando os ataques institucionais vêm do presidente Jair Bolsonaro.
A reação parece não ter nada a ver com defesas institucionais. Omar Aziz preside uma comissão que tem como foco o governo Bolsonaro e que tem mostrado que a gestão de um militar da ativa – o ex-ministro Eduardo Pazuello – foi recheada de omissões na compra de vacinas e de negociações absolutamente estranhas que precisam ser investigadas.
Os militares têm tido muitas vantagens ao se misturar com o governo Bolsonaro. Não tiveram congelamento de salários, os cortes de gastos foram menores do que outras áreas e, em alguns programas, houve até aumento dos recursos. A reforma da previdência, para eles, foi na verdade aumento de partes do soldo. Fora isso, o mais importante é que eles ocuparam o Ministério da Saúde num momento delicado para o país. Foram muitos os militares da reserva e da ativa nomeados para vários postos estratégicos. E essa gestão deu muito errado.
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Ultimamente, sempre que se fala de algum problema relacionado à pasta, tem um militar envolvido, seja da ativa ou da reserva. Não faltou aviso. Muitos alertaram que essa mistura com o governo acabaria afetando as Forças Armadas. Agora, quando são criticados, agem como se fossem instituições acima do bem e do mal e de uma forma como se ninguém possa apontar suas falhas.
Como esta coluna mostrou em maio, o presidente Jair Bolsonaro tem convocado os militares a intervirem na política. Um erro já anunciado e que está dando os resultados que já se esperava: as Forças Armadas são instituições de Estado e não de governo e não deveriam tomar partido e sair em defesa de nenhum político. A reação ao presidente da CPI da Covid é desproporcional, desnecessária e só escancara o quanto os militares se entregaram aos caprichos do atual governo. Eles querem ser os intocáveis da República.
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