Os seis graves erros de países ricos apontados por Lula na ONU
Ou... como o presidente brasileiro deu um 'pito' nos países mais ricos do mundo durante discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas
Lula abriu a Assembleia Geral das Nações Unidas fazendo uma crítica contundente aos países mais ricos do mundo, ao neoliberalismo como doutrina econômica e ao que definiu como crise nas relações multilaterais.
Para o presidente brasileiro, o que deveria ajudar – negócios entre diversos países da organização internacional – tem gerado ainda mais desigualdade. Mesmo que o objetivo final seja exatamente o contrário.
Lula deu vários exemplos.
Entre eles, o presidente brasileiro citou que os gastos militares no ano passado foram mais de US$ 2 trilhões, sendo US$ 83 bilhões para armas nucleares, valor vinte vezes superior ao orçamento regular da própria ONU.
Lula escolheu também lembrar que o FMI concedeu US$ 160 bilhões em direitos especiais de saque aos países europeus – ou seja, desenvolvidos – e apenas US$ 34 bilhões para os países africanos (ou em desenvolvimento).
Num paralelo com seu primeiro discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2003, quando foi eleito pela primeira vez ao cargo de presidente do Brasil, contabilizou que 735 milhões de seres humanos vão dormir com fome nesta terça, 19.
Nesse momento do discurso, já se sabia que Lula tinha focado, no palco de Nova York, em todos âmbitos possíveis da desigualdade humana espalhada mundo afora – para ele, uma consequência da disparidade de renda entre países e pessoas.
“O mundo está cada vez mais desigual”, disse, sob olhar atento de diversas lideranças mundiais e nacionais, como o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, presentes na ONU. Para o petista, “é preciso antes de tudo vencer a resignação que nos faz aceitar tamanha injustiça”.
Lula chamou outra atenção importante: faltam apenas sete anos para que se atinja a data limite de cumprimento de importantes objetivos da ONU. A chamada Agenda 2030, a mais ambiciosa pauta da Organização das Nações Unidas, pode se transformar em seu maior fracasso, caso os países não apressem os passos – avaliou o presidente brasileiro.
Ou seja, era o quarto pito do presidente brasileiro sobre o comportamento do mundo perante a desafios como a fome, a miséria e as mudanças climáticas. Essas metas para 2030 tem 17 itens. Lula incluiu mais um objetivo no seu discurso na ONU, o de que o 18º seja o da erradicação do racismo.
Sob aplausos, Lula bradou que o Brasil está de volta após os anos bolsonaristas. “Como não me canso de repetir, o Brasil está de volta. Nosso país está de volta para dar sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais.
Resgatamos o universalismo da nossa política externa, marcada por diálogo respeitoso com todos”.
Depois, o petista criticou a extrema-direita de outros países e afirmou que elas são resultado do descontentamento com a política após erros econômicos. “O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros surgem aventureiros de extrema-direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário”, disse Lula.
Em relação às metas ambientais do planeta, o presidente brasileiro deu outra bronca. Recordou que “a promessa de destinar 100 bilhões de dólares – anualmente – para os países em desenvolvimento permanece apenas isso, uma promessa”. “Hoje, esse valor seria insuficiente para uma demanda que já chega à casa dos trilhões de dólares”.
E aproveitou, claro, para fazer propaganda do seu governo, apontando que o ritmo do desmatamento na Amazônia já caiu 48% do início do ano até agora. “O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. A Amazônia [agora] está falando por si”, disse o petista.
Foi um discurso forte e quase sem escorregões. A única contradição ficou no fato de que Lula afirmou que mantinha a “inabalável confiança na humanidade”, mesmo apontando essa série terrível de erros, especialmente dos países mais abastados.