O presidente da Câmara, Arthur Lira, deu um perigoso recado a Lula e ao Supremo Tribunal Federal (STF) durante discurso nesta segunda, 21, em evento da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad).
Ao falar sobre as emendas de relator, o famigerado orçamento secreto, Lira disse que “é errado retroceder” na questão e ainda defendeu que os parlamentares tenham ainda mais poderes.
“Nós avançamos um pouco nas prerrogativas que, ao longo dos anos, abrimos mão. Nossa luta em Brasília é para que essas prerrogativas cresçam, para que se chegue no limite constitucional e não se avance um milímetro nem se recue um milímetro”, disse.
A declaração choca com o que Lula disse em sua campanha. O presidente eleito foi um duro crítico do orçamento secreto e chegou a dizer que essa era a “maior excrescência da política orçamentária do país”.
Poucos dias após o fim da eleição, Lula e Lira se encontraram. A coluna apurou que, durante a conversa, Lira chegou a defender, de forma educada, a manutenção das emendas, o que deixou Lula em uma saia justa.
Para o presidente eleito, inclusive, o ideal é que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida sobre a questão. Os ministros do Supremo devem julgar a legalidade do orçamento secreto em breve. Politicamente, seria melhor que Lula não entrasse em atrito com parlamentares por causa das emendas. Se o STF decidir pela ilegalidade, o presidente eleito – e é o que Lula prefere, também segundo apuração da coluna – ficaria livre dessa discussão.
A declaração de Lira nesta segunda, 21, também tem um recado ao Supremo. Durante o discurso, o presidente da Câmara disse que o parlamentar é quem melhor conhece as necessidades dos municípios para direcionar os recursos.
“[O ministro] ter que decidir sozinho se esse recurso vai para Coité do Nóia, em Alagoas, ou Alagoa Grande, na Paraíba – e eu conheço muito o interior do Nordeste porque eu andava muito fazendo vaquejada. O ministro não tem essa sensibilidade”, afirmou Lira.
A declaração de Arthur Lira carrega vários perigos. O orçamento secreto é um retrocesso na questão da transparência das contas públicas e precisa, sim, ser revisto.
Além disso, o presidente da Câmara mostra que está se sentindo empoderado para dizer algo que provoca não apenas o STF mas também o presidente que ainda nem entrou no poder. Lira não quer retroceder. Pelo contrário. O aliado de Bolsonaro deu um recado a Lula de que quer avançar e dar ainda mais poderes aos parlamentares.