O assassinato do dirigente petista Marcelo Arruda pelo bolsonarista Jorge Guaranho é um fato grave em si, mas — ao mesmo tempo — um alerta para o futuro: estamos a menos de oitenta dias das eleições — 79 para ser exato — e o ambiente nos leva a crer que outras tragédias podem acontecer.
Ainda mais quando a Polícia Civil do Paraná diz que — quando um quadro do Partido dos Trabalhadores é assassinado por um apoiador do atual presidente da República gritando “aqui é Bolsonaro” — se trata de crime comum.
Imaginem se fosse exatamente o contrário? Impossível ter uma evidência maior de que se trata de um crime político.
As instituições de Estado não podem cair na armadilha de pender para o pensamento bolsonarista só porque ele venceu as eleições de 2018. Se categorizasse o crime como político, a Polícia Civil do Paraná poderia, inclusive, evitar novas tragédias. Agora, pode acabar ajudando no aumento da violência.
É que, ao analisar o grave caso, não se pode cometer o erro de igualar os dois lados.
Jair Bolsonaro fez apologia da violência quando defendeu jogar “uma granadinha” em reunião política de opositores. Ou quando falou em “fuzilar a petralhada”. Ou na desova de corpos de petistas na “ponta da praia”.
Mas não é só isso. A lista é interminável.
O presidente tem uma vida inteira de retórica violenta, usando-as nas mais diversas declarações ou em atos em favor da liberação das armas.
Sim, também não se deve ignorar os erros do ex-presidente Lula. Mas eles são pontuais e muito menores, como quando recentemente elogiou o vereador Maninho, que jogou um empresário contra um caminhão. Esse empresário ficou com sequelas até morrer em consequência da Covid-19.
Mas, repito, é uma exceção na trajetória política de Lula, que tem um longo histórico de declarações pacificadoras.
A moderação da linguagem tem sido uma preocupação do PT e do ex-presidente, que fez um discurso em Brasília nesta semana em que não respondeu na mesma moeda as provocações, para o bem do Brasil.
Em meio a esse quadro, um entrevistado de VEJA, Felipe Borba, da UFRJ, fez um importante raciocínio: “Temos dois discursos que estão caminhando juntos, o da intolerância e o da fraude eleitoral”.
É fácil concluir que foram exatamente esses dois discursos — juntos — que provocaram a invasão do Capitólio, nos EUA. E eles vieram da extrema direita americana.
O mesmo tem acontecido no Brasil.