O ex-presidente Jair Bolsonaro está enfrentando um dilema que pode afetar sua popularidade como nunca, após a mudança de sua estratégia de defesa nesta semana.
Político que já comprovou ser capaz de arrastar multidões, permaneceu em silêncio na investigação das joias – um direito constitucional que ele tem – mas deixa de ser aquele personagem briguento, despreocupado, sem ter nada a perder e sempre pronto a rebater investigadores e juízes na internet. Esse personagem anti-sistema que ele construiu para ser aceito.
Na última quinta, 31, foi diferente. Ele entrou pela porta dos fundos da PF e sem nenhum dos apoiadores gritando “mito, mito, mito”, como bem lembrou o jornalista Ricardo Ferraz, no programa Três Poderes de VEJA. O ex-presidente estava acompanhado apenas de advogados. Entrou mudo e saiu calado.
Em meio a essa mudança, uma comparação com o presidente Lula na Lava Jato é inevitável. Petistas estavam sempre presentes quando a liderança de esquerda estava presa.
E aí que ocorre o dilema.
Como se sabe, a popularidade de Lula foi construída de forma sólida durante décadas. A de Bolsonaro, entretanto, foi inflada num movimento anti-PT e da exploração do conservadorismo. É mais artificial, mas não deixa de ser potente – tanto que Bolsonaro perdeu a eleição para Lula por poucos votos.
É justo dizer também que o lulismo é um fenômeno político histórico, e, mesmo que o bolsonarismo também seja considerado um fenômeno, é bem mais recente. É mais efêmero e oportunista, ainda que o ex-presidente continue tendo seguidores fiéis.
Bolsonaro inflou o conservadorismo que não pratica – como casamento indissolúvel, por exemplo. Ele além de estar no terceiro casamento, o que é natural, mas rejeitado pelos mais conservadores, disse que usava o apartamento funcional para “comer gente”. Apesar desse conflito entre o que ele proclama e o que pratica, Bolsonaro sempre explorou a pauta conservadora de forma muito inteligente. Também manipulou o segmento evangélico, do qual não pertence.
Para aumentar sua popularidade e ser eleito presidente, Bolsonaro usou inteligentemente essas forças que já estavam na sociedade, e que ainda precisam ser compreendidas e respeitadas.
Mas a fórmula foi essa, apenas a da exploração.
Diferentemente de Lula, que veio do movimento sindical e construiu um partido fazendo parte da luta pela redemocratização e passando por várias campanhas até se tornar presidente. Bolsonaro usou essas bandeiras para lacração na internet e nas redes sociais. Isso, depois de passar anos abraçando apenas o “estandarte” do corporativismo do Exército.
Agora, calado e acuado pelas investigações, Bolsonaro pode perder todo o ativo que construiu sem a marra que cativou eleitores. Se for preso, haverá um “Bom dia presidente Bolsonaro” na porta da prisão? A ver.