O exemplo de Mbappé ao futebol e à política brasileira
Craque francês mostra que esporte e atletas não precisam ser alienados
Protagonista em duas finais de Copas do Mundo, o jovem Kylian Mbappé, de apenas 25 anos, mostrou nesta segunda-feira, 17, que ser uma estrela mundial do esporte não exige, necessariamente, alienação política ou desprezo pelos grupos vulnerabilizados. Sem delongas, ele convocou a juventude francesa a comparecer às urnas para impedir que a extrema-direita controle a política da França.
Ele falou sobre o tema em uma coletiva de imprensa que tinha como foco esperado a Eurocopa 2024. Mbappé, no entanto, escapou das declarações óbvias sobre banalidades do jogo, como ocorre na maioria das entrevistas esportivas, e não fugiu das perguntas sobre política. Ele apoiou o colega Marcus Thuram, que havia declarado publicamente seu voto contra os extremistas de direita que são favoritos na eleição para o legislativo francês.
Mbappé tem motivo para temer a ascensão direitista, uma vez que os grupos associados ao partido de Marine Le Pen sustentam um discurso de ódio contra minorias, imigrantes e seus filhos. O jogador é, ele mesmo, filho de pai nascido em Camarões e de mãe com origem argelina.
No Brasil, os ídolos do esporte caminham na direção oposta. Flamengo e Palmeiras – os dois principais times em qualidade técnica dos últimos anos – passaram o governo de Jair Bolsonaro servindo de trampolim para o presidente se defender ou se promover, sempre com base em pautas retrógradas, preconceituosas e danosas ao Brasil. O principal jogador brasileiro, Neymar, até hoje defende o ex-presidente de extrema-direita.
A Mbappé e Marcus Thuram – filho de Lilian Thuram, campeão em 1998 contra o Brasil – já se uniu a um ídolo do passado recente da França, o ex-atacante Henry. No Brasil, seria um alento se os craques de ontem saíssem em defesa do que é correto, refutando a violência contra a mulher, a invasão da vida privada por igrejas, o desprezo pela vida, o apreço pela pandemia, o racismo estrutural em suas mais diversas formas de manifestação, a homofobia e tantos outros males que permeiam o futebol e a sociedade brasileira.
Certamente isso ajudaria não só a saldar parte da dívida que o meio esportivo acumula em termos políticos para com o país, mas também contribuiria para uma melhora significativa da construção democrática do nosso país.