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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O duro desabafo do indigenista que assumiu o trabalho de Bruno Pereira

... na Amazônia, inclusive sobre o governo Lula

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2024, 17h25 - Publicado em 5 jun 2024, 17h19

Carlos Lisboa Travassos, escolhido para continuar o importantíssimo trabalho de Bruno Pereira na região do Vale do Javari, deu um duro depoimento para a coluna nesta quarta, 5, quando se completa dois anos da morte do maior indigenista da história do Brasil.

Brutalmente assassinado e esquartejado na Amazônia ao lado do jornalista Dom Phillips, Bruno Pereira havia sido alijado da Funai, fundação que ele serviu até o posto de coordenador-geral de Indígenas Isolados e de recente contato. Quem o conheceu como eu, sabe que ele nasceu para isso. Entendia do assunto como nenhum outro. Falava dialetos que só ele

Após comandar uma série de corretas ações de combate ao garimpo ilegal na TI Yanomami, Bruno Pereira foi exonerado do cargo pelo governo Bolsonaro por motivos óbvios. O resto da história termina tragicamente no dia 5 de Junho de 2022, quando ele trabalhava para associações indígenas.

Hoje o indigenista Carlos Lisboa Travassos, o mais preparado do país para atuar na Amazônia, reclama, assim como Bruno Pereira fazia, da pouca presença do Estado na região, mesmo no governo Lula que defendeu uma mudança na política. 

Leia abaixo os principais trechos do depoimento de Caros Travassos, hoje coordenador da EVU, a equipe de Vigilância da Univaja, que era chefiada por Bruno, à coluna:

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“Esses dois anos de morte do Bruno traz muitas recordações. Sinto muita falta do nosso amigo. Até hoje é difícil acreditar que ele não está aqui mais entre nós. E faz a gente pensar também o que aconteceu de lá para cá. Tem delegado da Polícia Federal que está empenhado em fazer da melhor forma possível o trabalho de investigação dos assassinos do Bruno, incluindo a descoberta do mandante. E a gente ainda aguarda julgamento para que parte da justiça seja feita. Eu acredito que, se o Bruno estivesse aqui, ia querer a Justiça pela morte dele a resolução do problema pelo qual ele lutava contra, que são as invasões do território, o garimpo na terra indígena, a entrada de pescadores e caçadores nos territórios dos indígenas do Vale do Javari, principalmente dos povos isolados. Tem a retirada de madeira, o avanço da máfia do tráfico internacional de drogas, que tudo isso fosse extirpado, ou ao menos fosse minimizado a uma escala muito pequena. E parte dessa justiça… acho que cada vez a gente vê mais longe.

No governo Bolsonaro, a gente tinha todos os motivos para acreditar que a gestão não estava interessada em mudar esse cenário aqui. Mas com a mudança de governo – já vai fazer um ano e meio – a gente vê ainda, pelo menos aqui na região do Vale do Javari, a presença muito pequena do Estado. Fora algumas ações pontuais que são servidores comprometidos do Ibama e da Funai, e que tentam fazer o que podem. O nível maior assim das instituições, eu não acredito que elas estejam preocupadas não com essa mudança de cenário aqui. A maior justiça que a gente podia pedir pelo Bruno é que esse cenário mudasse um pouco.

Fico preocupado com os indígenas que trabalham na equipe de vigilância da EVU, e com os outros colaboradores que trabalham junto com eles, porque o nível de ameaça vem aumentando e tempo vai passando, as pessoas se esquecendo daquilo que ocorreu. Acho que não demora muito para começar a ter outro tipo de ato de intimidação, mesmo de violência. Então, essa é a preocupação hoje. Gostaria de manifestar nossa  dor, nossa eterna indignação com o que aconteceu com ele.Uma pena muito grande para os amigos, mas para todo mundo, para a nossa sociedade como um todo”.

PS – Como vocês podem ver, leitores, Travassos fez reclamações semelhantes as que os indígenas do Vale do Javari fizeram há pouco mais de um mês.

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