O compromisso número 1 que Lula deve fazer
Líder nas pesquisas, pré-candidato do PT já sabe que herdará um país quase destruído se vencer a eleição
Apontado pelas pesquisas eleitorais como favorito para vencer a eleição presidencial, caso ela ocorresse agora, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa se comprometer a não usar o desastre provocado por Bolsonaro como desculpa para eventuais falhas se for eleito novamente para a Presidência da República.
Quando venceu a eleição de 2002, Lula pegou o Brasil em um dos momentos menos conturbados política e economicamente desde a redemocratização, na década de 1980. Mesmo assim, o petista usou, com frequência e sem moderação, a desculpa da “herança maldita” para quase todas as críticas que recebia.
Naquela época, o país havia enfrentado o apagão de 2001, por falta de investimento em infraestrutura, estava crescendo pouco e houve uma disparada do dólar pelo desconhecimento do que seria o PT no poder. Lula enfrentou muito bem essa incerteza do mercado financeiro.
O governo FHC havia feito muitas reformas que ajudaram o país a retomar o crescimento e aconteceu ainda a ajuda do boom de commodities. Politicamente, a sombra da intervenção militar na democracia já estava afastada e as instituições da República cumpriam uma trajetória de fortalecimento. A transição de poder foi exemplar.
Agora, além da recessão econômica agravada pelas péssimas e incompetentes respostas elaboradas pelo governo de Jair Bolsonaro, as instituições passam por um processo de retrocesso, com sinais ambíguos vindos das Forças Armadas e a instrumentalização das instituições por parte do presidente e seus auxiliares mais próximos.
O próprio presidente Bolsonaro investiu no conflito na sociedade brasileira. A soma da péssima administração e os rigores da pandemia aprofundaram a crise do país.
Lula já sabe, portanto, que pegará um Brasil quase destruído em diversas áreas. Se vencer novamente e voltar a ocupar o Palácio do Planalto, terá muito trabalho para pacificar o Brasil, e tomar decisões para corrigir os desvios nos quais o país entrou.
Desta vez receberá sim uma “herança maldita”, mas ele deve fazer compromissos junto ao país – não mais com o mercado financeiro – para abandonar o discurso de que recebeu um país quebrado e enfrentar de frente os graves problemas que enfrentamos.
O ex-presidente petista terá que ter um programa no qual demonstre que compreende o presente do país e também de que está disposto a, no mínimo, corrigir erros que tenha cometido no passado.