Lula dá tiro no pé
Ao dizer que vai regular veículos de comunicação, ex-presidente se prejudica
A declaração do ex-presidente Lula, de que vai regular os meios de comunicação se for eleito novamente, foi um verdadeiro tiro no pé.
Enquanto dialoga com políticos de diversas tendências e mostra que, como a maioria da sociedade, não aceita mais os ataques que tem visto contra a democracia, o petista avança nas intenções de voto.
Por isso, é difícil entender o erro de falar – e reiterar – nesta semana que vai “regular” a mídia se voltar ao poder. Isso era exatamente o que o presidente Jair Bolsonaro esperava que ele dissesse. Acende velhos temores em relação a Lula.
O problema é que a fala ainda pode ter ressentimento. O ex-presidente afirmou que gostaria que a Rede Globo pedisse desculpas a ele. Na pior parte da declaração, Lula afirmou que Hugo Chávez acabou atacado pela imprensa da Venezuela, quando a verdade é que foi Chávez quem atacou, censurou e fechou televisão e jornais, enfraquecendo os meios de comunicação.
Esse discurso de Lula não é novo. Quando esteve na presidência, o petista tentou emplacar um projeto de controle da imprensa.
Em 2004, por exemplo, enviou ao Congresso uma proposta que criava um Conselho Federal de Jornalismo. O objetivo do órgão seria “orientar, disciplinar e fiscalizar” o exercício da profissão e a atividade de jornalismo. O texto polêmico acabou sendo engavetado depois de receber fortes críticas.
Pelo visto, Lula ainda não desistiu da ideia. Com suas palavras, o ex-presidente estava falando com o grupo mais radical que o apoia. No entanto, essas pessoas não precisam desse discurso. Elas já estão com Lula. E estarão em 2022 – ele voltou para ficar.
A declaração polêmica só serve para afastar possíveis eleitores que ainda não decidiram o que farão em 2022 e que estão cansados de ver Jair Bolsonaro atacando há mais de 2 anos os mesmos veículos de comunicação que o ex-presidente agora critica.
Desde que assumiu o poder, o atual governo não economiza nas ofensas e nos ataques ao trabalho dos jornalistas. Por não aceitar críticas, Bolsonaro está sempre tentando virar a mesa e culpar a imprensa pela sua péssima gestão. Sua militância hostiliza abertamente os jornalistas de diversos jornais. Bolsonaro já mandou jornalista calar a boca, já ameaçou quebrar a cara de um repórter.
Essa é a hora de Lula fazer diferente e mostrar que pode novamente ser o contraponto. Apesar dos naturais estranhamentos, Lula governou respeitando a liberdade de imprensa. Ao ameaçar agora ser diferente do que foi, e ainda defender o indefensável Hugo Chavez, o ex-presidente deu o pior tiro no pé até agora.
Tá fácil. Lula precisa apenas mostrar que não pretende seguir os métodos de Bolsonaro, que não pretende seguir os passos de Chavez, e que vai respeitar a liberdade, a democracia, deixando a imprensa fazer o seu trabalho de forma independente. Como, aliás, o fez em seus dois mandatos anteriores.