“Do trabalho realizado, destaco dois pontos. Primeiro, foi observado que a ocorrência de acesso à rede, durante a compilação do código-fonte e consequente geração dos programas (códigos binários), pode configurar relevante risco à segurança do processo. Segundo, dos testes de funcionalidade, realizados por meio do Teste de Integridade e do Projeto-Piloto com Biometria, não é possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento”.
No parágrafo acima, as Forças Armadas – através do ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira – colocaram mais uma mancha em sua história.
O trecho faz parte do relatório de auditoria sobre as urnas eletrônicas entregue nesta quarta, 9, e – como já esperado – coloca dúvidas sobre sua segurança.
A postura é grave porque mantém o Brasil nesse clima de “terceiro turno”, deixando para sempre a dúvida sobre a integridade do processo eleitoral em 2022, exatamente como o presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores radicais queriam.
Alguém tem dúvida de que esse trecho será usado politicamente pelo líder da extrema-direita brasileira?
É lamentável que as Forças Armadas – depois dos muitos erros que cometeram ao longo da história – ainda não tenham aprendido que não é seu papel se posicionar politicamente. Infelizmente, durante todo o governo Bolsonaro, os militares se deixaram usar. E esse tão fundamental órgão de Estado passou a agir como órgão de governo.
Daniel Sousa, da GloboNews, foi certeiro ao traçar o histórico golpista das Forças Armadas, passando pela “revolta paulista” em 1924, por 1930, pelo golpe do Estado Novo em 1937, por 1945 ou 1955 e, por fim, o golpe de 64 que deu início ao período mais sombrio da história do país (veja a lista abaixo).
O golpe de 64 e a ditadura militar deixaram marcas profundas e, até hoje, as Forças Armadas não pediram desculpas pelos abusos que cometerem. Fecharam o Congresso, interferiram no Supremo Tribunal Federal, calaram a imprensa, torturaram e mataram seus cidadãos em quartéis do Exército, Marinha e Aeronáutica.
Agora, neste 9 de novembro, os militares inserem mais uma mancha em seu histórico.
É preciso lembrar: houve, em 2018, um novo erro. Às vésperas do julgamento de Lula, o então comandante do Exército General Villas Boas publicou um tuíte claramente opinativo sobre o cenário que se desenhava.
“Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”, escreveu.
As palavras criaram tumulto e mostraram o quanto os militares não sabem reconhecer e aprender com os erros que cometeram. O próprio general já admitiu que atuou no limite da legalidade. Eu diria ilegalidade mesmo.
Quatro anos depois, o certo seria pedir desculpas pelo vínculo com um governo golpista e evitar qualquer suspeita sobre o processo eleitoral. Mas – se não houve pedido de desculpa até hoje pelos vários erros do passado – não será agora que a postura vai mudar.
1904: A revolta da Escola Militar da Praia Vermelha
1922: Movimento dos 18 do Forte
1924: Revolta Paulista (segunda revolta tenentista)
1930: Revolução de 30
1937: Golpe do Estado Novo (apoio dos militares)
1945: Militares derrubam Getúlio
1955: Golpe Preventivo do Marechal Lott para garantir a posse de JK (contra militares que queriam impedir a posse)
1964: Golpe de 1964