Fala de Bolsonaro sobre Alexandre de Moraes esconde uma grande ironia
Ou… o presidente acusa o ministro de fazer o que ele, sim, faz. Entenda
O presidente Jair Bolsonaro se confundiu em suas (já famosas) críticas nesta segunda, 21. Em entrevista à TV Jovem Pan, o presidente disse que o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes faz uma “perseguição implacável” contra ele.
“Sabemos da posição do Alexandre de Moraes. É uma perseguição implacável para cima de mim”, disse o presidente.
Não é preciso ir muito fundo para constatar que, na verdade, o perseguidor é Bolsonaro. O presidente não consegue passar muitos dias sem citar Moraes, sem alfinetar o ministro e sem colocar em dúvida a honestidade de seu trabalho.
Para ajudar o presidente e seus apoiadores, esta coluna vai dar alguns exemplos do que seria, de fato, uma “perseguição implacável”.
Perseguição implacável é apoiar atos antidemocráticos que enaltecem a ditadura militar, que ataca as instituições e que ofendem a democracia.
Perseguição implacável, senhor presidente, é atacar o ministro responsável pelo inquérito que investiga esses atos.
Perseguição implacável é espalhar notícias falsas sobre a saúde dos brasileiros e sobre a vacina contra a Covid-19 e criticar o ministro que, com razão, investiga esses absurdos.
Perseguição implacável é vazar dados sigilosos em uma rede social e ofender o ministro que, com razão novamente, investiga esse comportamento.
Perseguição implacável é publicar críticas a um ministro que suspendeu o Telegram porque a plataforma não assume nenhuma responsabilidade pelo que é publicado em seu espaço.
Embora Bolsonaro não saiba o que é isso, é preciso responsabilizar quem erra, quem agride a democracia e quem incentiva as pessoas a continuarem disseminando inverdades.
Enquanto Alexandre de Moraes faz seu trabalho e é acusado de perseguição, o presidente continua fazendo insinuações sem provas e inflamando seus seguidores a reforçarem esse tipo de comportamento.
As eleições se aproximam e Bolsonaro terá que lidar com o fato de Moraes será o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no período das votações.
O presidente deveria estar preocupado em melhorar sua gestão – se pretende sonhar com uma reeleição – em vez de acusar Moraes de fazer exatamente aquilo que ele não cansa de fazer diariamente.