
Apesar do desgaste público com as autoridades constituídas – seja no Supremo Tribunal Federal, seja na Procuradoria-Geral da República – após a revelação de que se refugiou na embaixada da Hungria por dois dias, Jair Bolsonaro já está conseguindo criar uma narrativa positiva entre seus fiéis seguidores.
Aliás, a capacidade do bolsonarismo de criar (e consumir) narrativas é infindável.
Correntes internas de grupos da extrema-direita tem usado as imagens do circuito interno da embaixada, reveladas pelo jornal The New York Times, para reforçar com seus seguidores o seguinte: o ex-presidente é um homem sozinho, perseguido, simples, que se recolhe no carnaval, come pizza e até se “acampa” numa embaixada se for preciso.
Do ponto de vista da imagem, é justamente isso o que o líder da extrema-direita quer passar.
Após o passaporte retido por seu envolvimento numa vergonhosa tentativa de golpe e as estripulias na embaixada húngara onde nenhuma ordem judicial poderia ser cumprida, o ex-presidente teve negado, nesta sexta, 29, a devolução do documento vermelho. A resposta negativa veio de quem? Alexandre de Moraes, mas isso também estava calculado.
A tentativa de recuperar o passaporte era para que Bolsonaro pudesse aceitar um convite de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, para uma visita em meio à guerra com o Hamas.
Podem ter certeza de uma coisa, leitores: isso será usado também para manter o ideário de que ele é perseguido. Especialmente, neste caso de Israel, com os fiéis da Igreja Evangélica, um dos segmentos que mais servem de sustentáculo desde 2018.