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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Como a viúva de Bruno Pereira vê a política indigenista de Lula

... dois anos após o brutal assassinato do marido no Vale do Javari, na Amazônia

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 jun 2024, 00h30 - Publicado em 5 jun 2024, 23h00

A competente antropóloga Beatriz Matos, viúva de Bruno Pereira, deu um depoimento à coluna sobre a situação dos povos indígenas nesta quarta, 5, dois anos após a morte do maior indigenista da história do Brasil.

Beatriz Matos diz viver um momento ambíguo: um momento de esperança, mas de ainda testemunhar muita dificuldade pela frente. A antropóloga, que hoje é a responsável pela área de indígenas isolados e de recente contato no ministério dos povos originários, afirma que esse um ano e meio do governo Lula serviu como “esforço gigante para poder retomar a política indigenista [brasileira]”.

“Nesse dia, dois anos atrás, a gente não tinha informação, a gente não tinha apoio nenhum. Tinha um presidente que difamava a memória dos dois. Na verdade, nesse momento de memória, de homenagem agora, a gente sente um sentimento de como as coisas estão diferentes. E ao mesmo tempo, vendo que há uma grande complexidade”, afirmou Beatriz Matos, lembrandoo comportamento grotesco de Jair Bolsonaro de culpar as vítimas na época dos assassinatos.

Mas a antropóloga também afirma que é necessário mais orçamento para o Ibama e para a Funai, e em tudo que se refere aos povos originários no governo federal.

Leia abaixo os principais trechos do depoimento de Beatriz Matos à coluna.

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“Acho que o sentimento é que tem uma possibilidade, um horizonte de avanço. A gente vê um monte de momentos comparando com o que aconteceu na época, com o que a gente passou na morte do Bruno e do Dom. Nesse dia, dois anos atrás, a gente não tinha informação, a gente não tinha apoio nenhum. Tinha um presidente que difamava a memória dos dois. Na verdade, nesse momento de memória, de homenagem, a gente sente um sentimento de como as coisas estão diferentes. E ao mesmo tempo, vendo que há uma complexidade.

A situação que as terras indígenas estão hoje – o Vale do Javari, mas, na verdade, todas as terras indígenas – mostra para gente um desafio enorme. Estando no governo, estando trabalhando dentro governo vejo um esforço gigante para poder retomar a política indigenista, retomar as políticas de proteção dos povos indígenas, dos povos isolados, porque se agravou muito com o descaso total do governo anterior. A gente passou esses um ano e meio tentando reconstruir isso.

Após ser convidada por Sônia Guajajara vim para Brasília, com meus filhos, nesse esforço de mudar, a gente fez essa aposta: vamos ajudar a construir esse ministério, vamos ajudar a reconstruir a política do indigenista. Desse momento pra cá foi esse tempo de reconstrução. Sinto assim ao ver os ministérios comprometidos com o Plano de Proteção do Javari, que a gente está tentando implementar desde o ano passado. A gente elaborou ele ano passado e agora a gente está conseguindo começar as primeiras ações desse plano de proteção, com a colaboração de vários ministérios. Tem um vislumbre de esperança de que essa proteção vai ser contínua. Não adianta fazer ações pontuais.

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Agora, é preciso mais orçamento, mais condições para que os profissionais da área possam trabalhar. A gente teve avanços com o plano de carreira e o concurso para a Funai, aumentando o quadro, mas ainda é insuficiente. O orçamento da Funai ainda é insuficiente, o orçamento do Ibama é insuficiente. O Ibama se comprometeu com a abertura do escritório em Tabatinga, que atende a região do Vale do Javari. A gente precisa reabrir todos esses escritórios, a gente precisa dar condições para que o pessoal do Ibama possa trabalhar. 

Então, é ambíguo: a gente está em um momento de esperança e em um momento também de ver ainda muita dificuldade pela frente. Acho que isso meio que resume esse turbilhão nos dois anos da morte do Bruno”.

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