Lula ficou constrangido. Bastante, aliás.
Ao ver a apresentação das diretrizes do seu programa de governo à Presidência ser interrompido, nesta terça-feira, 21, por um Eduardo Suplicy revoltado por se sentir escanteado no PT, o ex-presidente abaixou a cabeça.
Lula mostrou aos correligionários que estava lendo um documento, com um leve sorriso no rosto, mas o ambiente era ruim – de climão mesmo –, se fôssemos definir como as novas gerações gostam de descrever.
Suplicy interrompeu Aloizio Mercadante apenas na apresentação do esboço que daqui a semanas culminará no programa de Lula, que lidera as pesquisas eleitorais. Ou seja, era um evento menor, mas o próprio PT deu ares de grandiosidade a ele.
Ocorre que Suplicy roubou a cena:
“[Quero] entregar ao Aloizio Mercadante a proposta que não foi considerada ainda, entre os itens principais, a instituição da renda básica de cidadania, aprovada por todos os partidos, sancionada pelo presidente Lula e está no programa do PT há muito anos, todo ano. Ele [Mercadante] tem alguma coisa comigo, não me convidou para esta reunião. Você sabe com quem que eu soube da reunião? Ontem à noite (…) ‘Você não vai na reunião do partido?’ Não fui convidado, mas hoje eu estou aqui. E continuarei trabalhando muito para que Lula e Alckmin instituam a renda básica de cidadania enquanto eu estiver vivo ainda”.
Enquanto Lula lia constrangido um documento e mudava as páginas rapidamente, Geraldo Alckmin, o vice na chapa do ex-presidente, batia palmas para as declarações de Suplicy e olhava para ele, fazendo sinal de positivo.
Em Brasília, todos conhecem a obsessão – no bom sentido – de Suplicy com a renda básica de cidadania, uma bandeira que ele carrega há décadas e que, às vezes, gera constrangimento por sua insistência.
Mas a pauta é boa e merecia um melhor tratamento do PT, assim como Suplicy.
Ele é um quadro histórico do partido – aliás, ali, todos eram -, mas Suplicy passa imagem de humildade, enquanto Mercadante, de arrogância. Já o Lula… Bem, o Lula é o Lula.