
Agora que as instituições finalmente começaram a fechar o cerco contra os abusos do ex-presidente Jair Bolsonaro – pelo menos no que diz respeito ao combate às fake news – é preciso que elas fiquem atentas a outro crime cometido recorrentemente na esteira da herança maldita do bolsonarismo: o preconceito.
André Valadão, “pastor” de uma das igrejas evangélicas mais conhecidas do Brasil e apoiador número dois (o número um é Silas Malafaia) do líder da extrema direita, sugeriu a morte de homossexuais em culto dominical da Lagoinha, nos Estados Unidos, onde mora.
“Não é possível um crente aplaudir um casamento homoafetivo. […] Agora é hora de tomar as cordas de volta e dizer ‘não, não, não, não, não, pode parar. Reseta’. Aí Deus fala: ‘Não posso mais. Já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, eu matava tudo e começava tudo de novo. Mas já prometi para mim mesmo que não posso, agora está com vocês’”, disse.
André Valadão tratava da aliança de Deus com o homem após o dilúvio que deixou vivos apenas Noé, seus familiares e diversos animais em uma arca – uma das passagens mais conhecidas da Bíblia.
Na ocasião, o livro sagrado conta que Deus prometeu nunca mais acabar com a humanidade em um dilúvio. Daí, Ele criou o arco-íris como um sinal dessa aliança que não poderia ser mais quebrada.
O livro de Genesis conta que Deus diz assim a Noé: “Esse é o sinal da aliança que estabeleci entre mim e toda forma de vida que há sobre a terra”. Ou seja, a passagem fala do amor entre Deus e a criação. Mas, como tudo na narrativa do bolsonarismo, até isso se transforma em propagação de ódio.
O Ministério Público abriu um procedimento, mas ainda é pouco. Muito pouco. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a homofobia é um crime imprescritível e inafiançável, sendo usada a aplicação da lei do racismo para fazer valer a legislação, que é para todos. A pena é de um a três anos de reclusão e multa para quem incorrer nessa conduta.
Vale para “pastor” também?