Vitorioso no primeiro turno com 57 milhões de votos e 48% dos eleitores, Lula adora uma metáfora futebolística. Quando era presidente, entre os anos de 2003 e 2010, vivia mantendo uma retórica populista através de comparações sobre o Corinthians, o Flamengo e outros times de grandes torcidas. Era a forma de falar com o público.
Pois bem.
Foi à velha estratégia que o petista recorreu ao tomar o susto que o bolsonarismo deu na esquerda brasileira no primeiro turno das Eleições de 2022.
Lula já havia usado o expediente futebolístico no Jornal Nacional para explicar porque inventou o “nós e eles”. Mas, agora, ao ver o resultado das urnas, disse: “Eu quero dizer para vocês que nós vamos ganhar essas eleições. Isso para nós é apenas uma prorrogação”.
O petista acertou no tom, demonstrando otimismo para a militância petista, mas dourou a pílula em relação ao risco da derrota, minimizando a complexidade do “extratime” que o país viverá entre o petismo e o bolsonarismo até o dia 30 deste mês.
Repito: nunca um candidato que chegou atrás no primeiro turno conseguiu virar a eleição no período do segundo turno, numa disputa presidencial.
Mas o país viu – neste domingo, 2, – a maior reformulação de forças desde a redemocratização, e o curioso é que ela remete ao tempo político do bipartidarismo da ditadura militar.
Mesmo que, agora, a legenda de oposição, o PT, seja verdadeira e não de fachada, o PSDB, por exemplo, virou um capítulo que faz parte da história, sendo substituído por uma força de extrema-direita que, em alguns anos, se juntará provavelmente sob uma nova legenda.
Bolsonaro tem a estrondosa vitória do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) – que deixou Fernando Haddad (PT), e principalmente Rodrigo Garcia (PSDB), para trás e vai ao segundo turno contra o petista – para comemorar. Mas não só ela.
Viu seus radicais – os mais radicais de plantão -, como Ricardo Salles, Damares Alves, Bia Kicis, Eduardo Pazzuello, Marcos Pontes e o próprio filho zero 2 Eduardo Bolsonaro, serem varridos para dentro do Congresso. São agora a maior bancada na Câmara.
O partido do presidente também irá comandar a maior bancada do Senado, tendo ajuda extra de ex-aliados que romperam com o líder da extrema-direita, mas que se reaproximaram do bolsonarismo na hora em que eleição foi se aproximando, como Sérgio Moro.
Diante desse quadro em que ideias como o estado laico e a terra plana são questionadas não só por um governo de um presidente incidental, mas pelas urnas, há um árduo caminho pela frente.
E diante da vitória de expoentes de uma direita orgulhosa de ser negacionista – e que ainda está com a máquina pública na mão -, Lula sabe o que está em andamento: a tal prorrogação pode acabar na disputa dos pênaltis, voto a voto, onde mais vale a sorte do que o plano de jogo.