A pesquisa que o PSDB ignorou sobre João Doria
Partido agora defende que Simone Tebet seja a candidata da terceira via, mesmo ela pontuando menos que o ex-governador de São Paulo
As incoerências do PSDB têm dificultado — e muito — a vida de João Doria. Um partido que nasceu na redemocratização agora se posiciona sistematicamente contra a democracia ao ignorar as prévias que fez para escolher seu candidato à presidência.
Mesmo depois de vencer as eleições internas para ser o candidato tucano ao Palácio do Planalto, João Doria continua tendo que lutar para mostrar que é o nome para representar a autointitulada terceira via nas eleições de outubro.
No último golpe — e friso último porque houve outros — que o ex-governador sofreu, o PSDB simplesmente escondeu o resultado de uma pesquisa interna de intenção de votos e ignorou o levantamento da Genial/Quaest que mostra que Doria tem mais chances de voto do que Simone Tebet entre a fatia do eleitorado que ou não decidiu em quem votar ou não quer Lula e Jair Bolsonaro.
O PSDB e o MDB têm tentado colocar Simone Tebet como candidata única para deixar os estados livres para apoiarem quem quiser. Isso significa tirar Doria da disputa e, pior ainda, deixar o caminho livre para o tucano que quiser apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro.
Sim, esse é último golpe. O da pesquisa. Mas existem outros…
O comportamento vai completamente contra a democracia que o PSDB defende desde a sua criação, e de seus fundadores: Franco Montoro, José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas.
Embora Simone Tebet tenha uma carreira admirável e seja uma grande política, com participação importantíssima na CPI da Covid-19, Doria construiu uma carreira muito mais forte para disputar a presidência, principalmente com a campanha que fez a favor da vacina.
Como esta coluna mostrou, a economia brasileira também estaria ainda pior se não fosse pelo empenho de Doria em imunizar a população.
Esse não é o primeiro golpe que Doria sofre dentro do PSDB. Tanto nas eleições para a Prefeitura de São Paulo, em 2016, quanto nas eleições para o Governo do Estado, em 2018, Doria venceu prévias internas apesar da resistência de caciques tucanos ao seu nome.
Ano após ano, Doria demonstra a sua força democraticamente — sim, ele também errou quando apoiou Bolsonaro em 2018, mas diz ser sua pior falha política —, precisando lutar para garantir suas vitórias.
O ex-governador de São Paulo deveria ser o candidato natural à Presidência da República como já aconteceu com nomes como Geraldo Alckmin, mas, por um motivo antidemocrático, a vida de Doria é sempre mais difícil, e ele precisa lutar mais do que seus correligionários para se autoafirmar entre os tucanos.
É lamentável que o PSDB faça prévias — com dinheiro público —, e, ao final, desrespeite o resultado do processo interno. Muitos líderes do partido gostariam que Eduardo Leite tivesse ganhado a disputa tucana, mas é preciso reconhecer a força de João Doria e respeitar a vontade da maioria dos filiados ao partido que desejam que o ex-governador tenha o apoio da legenda para a chance de tentar vencer Lula e Bolsonaro em outubro. Não que isso seja fácil…