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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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A curiosa história da terra natal de Krenak, novo imortal da ABL

Ou... o Itabirano Aílton volta para Itabira, a terra em que (não) nasceu

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 Maio 2024, 08h40 - Publicado em 11 out 2023, 18h35

O novo imortal da Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak, vai visitar sua “cidade natal” pela primeira vez durante o Flitabira, o charmoso festival literário que acontece entre os dias 31 de outubro e 5 de novembro, em Itabira (MG).

Pronto!

Você, leitor, deve achar que o titular desta coluna enlouqueceu, já que ninguém visita a cidade onde nasceu pela primeira vez, certo? Mas Krenak, o primeiro indígena a sentar numa cadeira da ABL, continua a surpreender.

É que o poeta, escritor, filósofo e ativista dos povos originários nasceu mesmo em Itabirinha de Mantena, já na divisa com o Espírito Santo, a exatos 320 km da “grande” Itabira. Eram os idos de 1953, ano da coroação da saudosa rainha Elizabeth II.

Catorze anos se passaram até que o pai de Krenak finalmente registrasse o imortal da ABL em um cartório. Ele disse “Itabirinha”, mas o tabelião entendeu “Itabira”.

E assim ficou.

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Após receber o convite de Afonso Borges, curador do evento, o imortal conversou com a coluna e brincou. “Será muito bom. É a primeira vez que vou à cidade onde eu nasci”, disse, entre risos.

Krenak assumiu a cadeira número 5 da Academia, a mesma que estava vaga desde a morte do historiador José Murilo de Carvalho.

Como revelou a coluna, o festival trará uma novidade histórica: a voz de Candido Portinari será exibida ao público pela primeira vez. Gravações com a voz do pintor não eram conhecidas.

Recentemente, contudo, o Projeto Portinari, presidido por João Candido Portinari, filho do pintor, descobriu uma entrevista dele, em 1946, para uma rádio francesa. Portinari fala por somente 59 segundos.

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É esse o único registro de voz dele, que será exibida no festival.

Pesquisadores da Engenharia Eletrônica da UNIFEI, de Itabira, conseguiram sintetizar a voz do próprio Portinari e de Carlos Drummond de Andrade. este sim um “verdadeira itabirano”.

O público também poderá ver uma inédita leitura de cartas entre o poeta e o pintor graças a tecnologia.

Aílton Krenak vai fazer a mesa de abertura, inspirado pelo poema “O Homem; As Viagens”, de Drummond, no dia 1 de novembro, 19h30, sob a mediação do outro curador do Flitabira, Sérgio Abranches.

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Aqui, a programação completa: flitabira.com.br. E o poema drummondiana abaixo:

O Homem; As Viagens

O homem, bicho da terra tão pequeno
Chateia-se na terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a lua
Desce cauteloso na lua
Pisa na lua
Planta bandeirola na lua
Experimenta a lua
Coloniza a lua
Civiliza a lua
Humaniza a lua.

Lua humanizada: tão igual à terra.
O homem chateia-se na lua.
Vamos para marte – ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em marte
Pisa em marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza marte com engenho e arte.

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Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro – diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus.
O homem põe o pé em vênus,
Vê o visto – é isto?
Idem
Idem
Idem.

O homem funde a cuca se não for a júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira terra-a-terra.
O homem chega ao sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o sol, falso touro
Espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
Do solar a col-
Onizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver.

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