Por que Marighella demorou tanto para estrear nos cinemas brasileiros
Além do fechamento dos cinemas em razão da pandemia, problemas burocráticos atrasaram exibição de cinebiografia de guerrilheiro
Mais de dois anos depois de estrear no Festival de Berlim, em fevereiro de 2019, o filme Marighella chega nesta quinta-feira, 4, às salas de cinema brasileiras sob ataques de apoiadores de Jair Bolsonaro (sem partido) e após um imbróglio entre os produtores do longa e a Ancine, agência de fomento do setor audiviosual.
A cinebiografia do guerrilheiro Carlos Marighella, dirigida por Wagner Moura, passou por uma intensa batalha burocrática nos escaninhos da Ancine em razão de outro filme que não havia sido lançado no prazo pela produtora O2. Moura chegou a dizer que tratava-se de uma censura velada do governo Bolsonaro.
Não se trata de uma desconfiança sem qualquer nexo, já que o próprio Bolsonaro ameaçou o órgão de extinção, caso não houvesse um “filtro” do projetos que lá chegam. Ao reagir a uma crítica de Moura a Bolsonaro, o secretário de Cultura, o ex-ator de Malhação Mario Frias, chegou a escrever no Twitter: “Achou que ia pegar comigo verba pública para este lixo panfletário?”
O problema se deu em torno de uma linha de financiamento de 1 milhão de reais do em razão da inadimplência na prestação de contas do crédito disponibilizado a outro filme produzido pela O2, que sempre reconheceu a pendência e informa que ela foi resolvida em outubro do ano passado.
Desde janeiro de 2020, antes de a pandemia fechar as salas de cinema em todo o mundo, o filme chegou a ter duas datas de estreia anunciadas (14 de maio do ano passado e 14 de abril de 2021).
Segundo o órgão oficial, o projeto passou a cumprir todos os requisitos no último mês. Ainda conforme a agência, o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), um dos mecanismos para financiamento do setor, investe quase metade do orçamento do projeto, avaliado em 10 milhões de reais.
O imbróglio, porém, não deve terminar com o início da exibição do filme, já que a O2 aguarda da Ancine o posicionamento a respeito de outras propostas de financiamento apresentadas ao FSA. Isso porque o dinheiro é necessário para fazer frente aos custos de produção.
“O orçamento de produção segue pendente de complementação, o que só ocorrerá na hipótese de assinatura dos contratos do FSA. Decidimos seguir com o lançamento do filme para honrar todos os compromissos comerciais assumidos com terceiros, evitando, assim, que maiores prejuízos fossem causados pela demora da Ancine em se posicionar sobre as ofertas”, diz a O2.
Burocracias à parte, Marighella é o mais novo tema a animar apoiadores e opositores do presidente. Enquanto os simpatizantes de Bolsonaro pregam o boicote ao longa, orquestrando, inclusive, uma enxurrada de notas baixas no IMDB (site que reúne informações e avaliações de filmes), os opositores do presidente têm agora um novo documento para mostrar como foram os anos de chumbo da ditadura militar.