Os atritos de Flávio Dino com aliados de Lula dentro e fora do governo
Embates do ministro da Justiça não se limitam ao bolsonarismo no Congresso e incluem arestas com colegas de Esplanada e desconfianças à esquerda

Além do Congresso Nacional, onde é alvo de uma sucessão de pedidos de convocação feitos por bolsonaristas para dar explicações a CPIs e comissões temáticas, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, também tem dentro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva outra frente de atritos, com arestas entre ele e colegas. Como mostra reportagem de VEJA desta semana, o mesmo ocorre com aliados de Lula fora do governo, que veem sua atuação com alguma desconfiança.
Um dos ministros com quem Dino tem se estranhado nos bastidores é o titular da Casa Civil, Rui Costa – que, diga-se, também é alvo frequente de críticas em razão do temperamento “difícil”. Interlocutores palacianos dizem reservadamente que os dois têm trocado bicadas em razão de semelhanças, como serem centralizadores e disputarem espaço no entorno de Lula. Dino, por vezes, buscou “contornar” a primazia de Costa como “gerente do governo” para despachar diretamente com o presidente.
Políticos próximos a outro ministro, Juscelino Filho, das Comunicações, também atribuem a Dino denúncias sobre sua conduta, que envolvem lances desabonadores como uso ilegal de jatos da FAB e ocultação de patrimônio. O motivo seriam diferenças entre eles no Maranhão, base eleitoral de ambos.
Ainda não falta no governo quem veja em Dino, um ex-petista que migrou ao PCdoB e depois ao PSB, busca por protagonismo a qualquer custo e “atropelo” a colegas em pautas comuns a mais de um ministério. Críticos também gostam de lembrar irritação de Lula por não ter sido informado previamente por Dino a respeito das investigações da PF que miraram planos do PCC para um atentado contra o senador Sergio Moro (União-PR). No dia anterior à operação, em uma declaração infeliz em uma entrevista, Lula disse que, enquanto esteve preso, pensava que só “ficaria bem” quando “f… esse Moro”.
Fora do governo, outro conflito em que o ministro se meteu envolveu o grupo Prerrogativas, que reúne advogados aliados de Lula. A controvérsia surgiu com a indicação de Marilda Silveira como assessora especial do ministro, com função de fazer triagem de magistrados a serem promovidos em tribunais e avaliar potenciais indicados a cortes superiores. Membros do Prerrogativas criticaram a escolha devido ao passado recente de Marilda, que atuou em ações importantes contra Lula: o impedimento de sua posse na Casa Civil de Dilma Rousseff, em 2016, a proibição a uma entrevista à imprensa enquanto ele esteve preso e o veto à sua candidatura a presidente, em 2018. Os embates levaram à saída de dois subordinados de Dino do Prerrogativas: o secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, e o secretário nacional de Direito do Consumidor, Wadih Damous.
Entre uma ala do Prerrogativas e deputados petistas, a propósito, avalia-se que o protagonismo do ministro da Justiça, embora cative ao ridicularizar e bater de frente com o bolsonarismo diante das câmeras, é produto do palco fornecido pela oposição e se tornou muito maior do que deveria. “Ser alvo de tantos pedidos de convocação é demonstração de um protagonismo errado”, diz um integrante do grupo. “O PT é um partido muito hegemonista, que olha sempre muito para dentro de si e tem dificuldades em enxergar fora de suas fronteiras”, rebate um aliado próximo a Dino.
A ala crítica entende que Flávio Dino tem agenda própria e, mais até do que pensar em se colocar na fila de nomes para suceder a Lula (o PSB também tem o vice-presidente, Geraldo Alckmin, na lista), movimenta-se discretamente de olho na próxima vaga ao Supremo Tribunal Federal. A cadeira ficará disponível em outubro, com a aposentadoria da ministra Rosa Weber.
Procurado pela reportagem, o coordenador do Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, desconversou e disse que Flávio Dino “tem o carinho e o respeito” do grupo.