‘Oferece a cabeça aos leões’: a ira de Braga Netto contra chefes militares
Ex-ministro e candidato a vice de Bolsonaro ordenou que ’infernizassem a vida’ de comandantes das Forças Armadas e familiares que não apoiaram o golpe

O ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, orientou ataques aos chefes das Forças Armadas que não aderiram ao plano de golpe de Estado. Segundo o relatório da Polícia Federal, ele deu a ordem para que outros investigados disseminassem notícias falsas sobre oficiais nos postos de comando e “infernizassem a vida” de seus familiares.
Em trocas de mensagens, o ex-militar Ailton Barros sugere pressionar o general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército no governo Bolsonaro, caso ele mantivesse a posição contra os golpistas. “Vamos oferecer a cabeça dele aos leões”, afirmou Ailton. Braga Netto, por sua vez, concordou e deu a ordem: “Oferece a cabeça dele. Cagão”.
Segundo o documento, o ex-ministro também determinou ataques direcionados ao então comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Carlos Baptista Júnior. “Senta o pau no Batista Junior. Traidor da pátria. Dai para frente. Inferniza a vida dele e da família”, escreveu. “Elogia o Garnier [Almirante Almir Garnier, comandante da Marinha] e fode o BJ [Baptista Junior]”, acrescenta. Logo depois, Braga Netto encaminhou imagens que associavam o tenente-brigadeiro ao “comunismo” e ao presidente Lula. De acordo com a PF, o ex-ministro também atuou para atacar o general Tomás Paiva, atual comandante do Exército.
“Foram identificados fortes e robustos elementos de prova que demonstram a participação ativa, ao longo do mês de dezembro de 2022, do General BRAGA NETTO na tentativa coordenada dos investigados de pressionarem os comandantes da Aeronáutica e do Exército a aderirem ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito. Conforme consta nos autos, BRAGA NETTO utilizou o modo de agir da milícia digital, determinando a outros investigados que promovessem e difundissem ataques pessoais ao General FREIRE GOMES e ao Tenente-Brigadeiro BAPTISTA JÚNIOR, além de seus familiares”, diz o relatório.
Por outro lado, a orientação era difundir elogios ao Almirante Almir Garnier, o único do Alto Comando que teria embarcado. Em depoimento, o general Freire Gomes confirmou que foi pressionado para aderir à tentativa de golpe e disse que tomou conhecimento de ataques pessoais comandados por Braga Netto a seus familiares. Já Baptista Júnior afirmou que foi atacado por não concordar com os planos de ruptura institucional.