O silêncio do governo Lula e do PT sobre a violência da polícia na Bahia
Fortes críticas são feitas à gestão de Tarcísio de Freitas na segurança em SP, mas estado comandado pelo petismo há cinco mandatos é o mais letal do país

Lideranças do PT e representantes do governo federal vêm, com alguma recorrência e boa dose de razão, criticando a letalidade policial na gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo. Ministro na gestão de Jair Bolsonaro, Tarcísio é adversário do petismo e certamente estará na oposição em 2026, seja como candidato à reeleição, como postulante à Presidência da República ou como cabo eleitoral da direita.
De fato, o número de mortes pela polícia em São Paulo cresceu de forma preocupante. Entre janeiro e outubro de 2024, o estado de São Paulo chegou a 676 mortes decorrentes de operações e abordagens da Polícia Militar, uma alta de 104% em relação a 2022 (último ano do governo anterior, dos tucanos João Doria e Rodrigo Garcia), quando 331 civis foram mortos.
Mas São Paulo está longe de ter a polícia mais violenta. A campeã é a da Bahia, que já contou 1.344 civis mortos por policiais de janeiro a outubro deste ano – ou seja, em números absolutos, supera São Paulo mesmo tendo uma população menor.
Considerando as taxas de mortes por 100 mil habitantes, São Paulo, com 1,79, está atrás da Bahia (com um índice tenebroso de 10,86) e mais treze estados, como o Amapá (o que tem a polícia mais violenta, com 17,64, logo à frente da Bahia).
Mas o petismo e o governo não mostram a mesma disposição para criticar a alta violência policial na Bahia, que é governada há cinco mandatos pelo PT, desde 2006: Jaques Wagner (dois mandatos), Rui Costa (outros dois) e Jerônimo Rodrigues (atual governador). Não há nenhuma declaração pública de caciques do governo e do petismo criticando a assustadora letalidade da polícia baiana.
Presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann vem batendo com frequência em Tarcísio e no seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite. “Derrite e Tarcísio, que nomeou esse conhecido truculento, são os responsáveis pela violência policial em São Paulo”, escreveu em suas redes sociais no dia 4 de dezembro, em meio ao acirramento das críticas à PM paulista depois que veio à tona vídeo de um PM jogando um homem de cima de uma ponte. “Não adianta o governador dizer agora que está chocado com o caso do homem jogado da ponte, pois quem dita o comportamento da tropa é o comando”, afirmou
“Casos de morte por PMs em SP explodem na gestão Tarcisio”, divulgou com estardalhaço o perfil oficial do PT nacional, que trouxe junto uma declaração do líder do governo Lula na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE): “A violência policial em São Paulo chegou ao nível da barbárie”, criticou o parlamentar.
🚨🇧🇷🪖⚖ Casos de mortes por PMs em SP explodem na gestão Tarcísio
De janeiro a novembro, 474 pessoas foram assassinadas por PMs do estado, 82% a mais que 2023; “A violência policial em São Paulo chegou ao nível da barbárie”, criticou dep. federal José Guimarães (PT-CE)
— PT Brasil (@ptbrasil) December 4, 2024
Governo Lula
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, também fez críticas à violência da polícia paulista, mas não se tem conhecimento de algum reparo à letalidade policial na Bahia. Em uma reunião do Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, em Brasília, também em dezembro, o ministro anunciou que o governo iria editar uma norma para disciplinar as abordagens policiais e fazer com que elas respeitassem os “direitos fundamentais” das pessoas. “Uma polícia que quer garantir a segurança do cidadão não pode praticar a violência”, declarou. A norma foi encaminhada à Casa Civil na última quarta-feira, 11, para ser transformada em projeto a ser remetido ao Congresso.
Se colega de governo, o advogado-geral da União, Jorge Messias, foi na mesma linha. “Ideologias que fomentam a violência policial são as que arremessam pessoas das pontes, alvejam negros pelas costas, atiram em crianças indefesas e agridem pessoas idosas à luz do dia”, disse em suas redes sociais, referindo-se ao já célebre episódio em São Paulo. Também nada falou da Bahia.
🎼Emancipem-se da escravidão mental
Ninguém além de nós mesmos pode libertar nossas mentes🎼Ideologias que fomentam a violência policial são as que arremessam pessoas das pontes, alvejam negros pelas costas, atiram em crianças indefesas e agridem pessoas idosas à luz do dia ❌
— Jorge Messias (@jorgemessiasagu) December 6, 2024
Pauta difícil
A questão da segurança pública sempre foi uma pauta difícil para a esquerda, que tem dificuldades para disputar politicamente esse tema com a direita. Seus representantes, ao que parece, viram no caso de São Paulo uma oportunidade para desgastar o inimigo ideológico. Até agora, no entanto, vem ignorando que tem um grande telhado de vidro.