O que as escavações encontraram no mais notório porão da ditadura militar
Trabalho de pesquisadores em prédio do DOI-Codi em São Paulo ocorreu nas últimas duas semanas
Inscrições na parede, possíveis vestígios de sangue e ao menos 350 objetos antigos estão entre as descobertas de pesquisadores no antigo prédio do DOI-Codi, em São Paulo, divulgadas nesta segunda-feira, 14. Realizado por cientistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o projeto de escavação no mais notório centro de repressão da ditadura brasileira começou no último 2 e ajuda a contar a história dos crimes cometidos pelo regime militar contra os próprios cidadãos.
Entre os indícios preliminares de violência encontrados no local estão escritos nas paredes feitos pelos prisioneiros, artefatos que indicam o processo de sequestro e fichamento dos prisioneiros e resíduos de um material que pode ser sangue. A professora da Unifesp Deborah Neves, coordenadora do projeto, explica a importância do trabalho arqueológico em frentes diversas. “É a primeira vez que trabalhamos ao mesmo tempo com três linhas da arqueologia: a das escavações, a forense — que permite que o investigador busque informações que podem ser usadas judicialmente— e a pública, voltada para a divulgação do trabalho”, afirma.
O Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) foi o principal órgão da ditadura militar encarregado de reprimir opositores do governo. Entre 1969 e 1983, estima-se que cerca de 7.000 pessoas tenham sido presas e interrogadas — frequentemente, sob tortura — no prédio localizado na Rua Tutóia, 921, na Vila Mariana, na Zona Sul da capital paulista, e que entre 52 e 79 dessas vítimas tenham sido mortas no local.
Uma das participantes do projeto, a pesquisadora Aline Carvalho, da Unicamp, declara que a iniciativa contribui para conscientizar a população sobre as atrocidades cometidas pelo regime autoritário. “Nossa ideia é manter viva a memória do trauma da ditadura militar para que isso nunca se repita — as ciências nos ajudam a produzir informações para compreendermos esse passado e construirmos percepções para uma sociedade democrática”, afirma.