Mesmo demitido, ex-presidente da EBC vai receber salários por seis meses
Hélio Doyle perdeu o cargo após compartilhar post com ataque a apoiadores de Israel; com decisão de comitê, ele manterá remuneração mensal de 34.900 reais

Exonerado do comando da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) após compartilhar uma publicação na qual chamava apoiadores de Israel de “idiotas”, o jornalista Hélio Doyle deverá continuar recebendo salário como diretor-presidente da instituição por seis meses. Os vencimentos somam cerca de 34.900 reais.
Em decisão de 11 de dezembro, a Comissão de Ética Pública votou por conceder a chamada quarentena remunerada ao jornalista. Pelas normas da administração federal, Doyle não poderá exercer profissão na iniciativa privada por um semestre, mas terá pelo mesmo período a remuneração que recebia à frente da EBC.
As regras valem para titulares de cargos do alto escalão do governo — como ministros e dirigentes de autarquias e empresas públicas, como era o caso do jornalista — que estão deixando o posto, e têm como objetivo evitar o uso de informações privilegiadas em benefício de interesses privados.
Saída tumultuada
Hélio Doyle foi exonerado em meados de outubro deste ano, após compartilhar um tuíte do cartunista Carlos Latuff com a mensagem: “Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”. A publicação foi feita na esteira dos ataques do Hamas no sul de Israel, ocasião em que dezenas de israelenses foram mortos e sequestrados pelo grupo terrorista.
Logo após a repercussão, o ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), manifestou “descontentamento” com o tuíte. “[Pimenta] Disse-me que a referida repostagem e sua repercussão na imprensa criaram constrangimentos ao governo, que mantém posição de neutralidade no conflito, em busca da paz e da proteção aos cidadãos brasileiros. Diante disso, pedi desculpas e comuniquei que deixo a presidência da EBC”, disse Doyle em 18 de outubro.
Nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fevereiro, o jornalista ficou seis meses na presidência da EBC, uma estatal que gerencia um conglomerado de veículos oficiais do governo, como a TV Brasil, a TV GOV, uma agência de notícias e rádios e TVs regionais e universitárias.
Sucessor
Ele foi sucedido no cargo por Jean Lima, doutor em história econômica pela Universidade de São Paulo (USP) e consultor no governo federal durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, quando atuou na Secretaria de Relações Institucionais.