Isolamento do PL na Câmara é visto como trunfo por Valdemar
‘Dono’ do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro avalia que, mesmo em meio a blocos, tamanho da bancada da sigla a torna estratégica na Casa

Os dois superblocos parlamentares anunciados recentemente na Câmara dos Deputados reuniram os principais partidos de centro e alteraram a correlação de forças dentro da Casa, quadro em que o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e dono da maior bancada de deputados eleita em 2022, 99 deputados, viu-se isolado, como mostra reportagem de VEJA desta semana.
A primeira aliança, anunciada há duas semanas, alinhou MDB e PSD, à frente de três ministérios cada na Esplanada dos Ministérios do governo Lula, com Republicanos, Podemos e PSC, em um blocão de 142 deputados. Em resposta ao movimento das legendas de centro, que lhe havia franqueado apoio maciço à sua reeleição com votação recorde à presidência da Câmara, com 464 dos 513 votos, Arthur Lira (PP-AL) colocou seu próprio bloco na rua, em proporções ainda maiores. Fora seu partido, o PP, o grupo inclui União Brasil, PDT e PSB, que ocupam sete ministérios do governo, Avante, Solidariedade, Patriota e a federação formada por PSDB e Cidadania. No total, 173 deputados.
Além de colocar fim à formação do centrão como conhecida sob Jair Bolsonaro, com Lira à frente da coalizão de PL, PP e Republicanos, a articulação dos blocos antecipa movimentos relacionados à sucessão do comando da Câmara em 2025: de um lado, Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos; do outro, Lira e sua intenção de ver como seu sucessor o deputado Elmar Nascimento (União-BA). Diante do isolamento, o PL terá pela frente como desafio a interlocução com os blocos.
Neste contexto, no entanto, o posicionamento atual do PL é visto por caciques da sigla como um trunfo. O presidente do PL, ex-deputado Valdemar Costa Neto, que encabeçou a decisão de não aderir a nenhum dos blocos, tem dito a interlocutores que a formação dos grupos de partidos foi um erro, atribuído por ele à articulação política do governo. Para o cacique, ao tentar fragmentar o centrão, acabou-se levando à sua “multiplicação”.
Valdemar também considera que, por ter cerca de um quinto dos votos na Câmara, o PL é estratégico para acordos em quaisquer projetos legislativos, além, é claro, de fiel da balança na precocemente discutida sucessão de Lira. Entrar para alguma das composições que incluem legendas claramente governistas, pensam o presidente do partido e outras lideranças, seria desfigurar o PL enquanto herdeiro dos votos da direita no Brasil e descaracterizaria seu viés conservador e liberal. Os blocos, segundo essa avaliação, “valorizaram o passe” da legenda. “Nosso partido hoje é fundamental. O lado em que estivermos será o vencedor”, diz o líder do PL, deputado Altineu Côrtes (RJ).