Ex-presidente do PSDB-SP diz que vai à Justiça contra Datena: ‘Usurpação’
Fernando Alfredo defende aliança com Nunes; candidatura do jornalista foi homologada pelo PSDB um dia antes da convenção, que acontece neste sábado, 27
Mesmo após a homologação da candidatura de José Luiz Datena à Prefeitura de São Paulo pela federação nacional PSDB/Cidadania, ocorrida nesta sexta-feira, 26, o principal adversário do apresentador diz que vai continuar lutando pelo apoio à reeleição de Ricardo Nunes (MDB) e acusa o correligionário e a cúpula tucana de não respeitarem a realização de prévias. A convenção do partido, marcada para este sábado, 27, está mantida, embora a decisão de homologação “antecipada” de Datena — a oficialização seria durante o evento –, tenha servido para arrefecer os ânimos das diferentes vertentes tucanas.
Fernando Alfredo, ex-presidente do diretório do PSDB paulistano, afirma que irá à Justiça com dois pedidos: um de impugnação da convenção, com a justificativa de que o evento será realizado com “preceitos errados”, e outro contra o uso de recursos partidários na pré-campanha de Datena, sob a alegação de usurpação de dinheiro público. Alfredo já havia ingressado com outra ação nesta semana, pedindo a prorrogação da convenção municipal, a fim de que fosse realizado um “amplo debate” com os filiados e eventual prévia.
A justificativa da cúpula do PSDB foi a de que não existe motivo para a contestação da homologação, uma vez que a federação é a “instância decisória máxima” no que diz respeito a disputas eleitorais em cidades com mais de 200.000 habitantes. O adversário Fernando Alfredo diz, no entanto, que participará da cerimônia e que não poupará críticas ao jornalista. A sua própria candidatura foi considerada uma tentativa de enfraquecer a candidatura de Datena, e fazer com que o partido apoiasse Nunes.
A VEJA, o ex-dirigente teceu críticas ao jornalista e à direção do partido, disse que o movimento é uma represália de Eduardo Leite e de Aécio Neves contra aliados do ex-tucano João Doria em São Paulo e garantiu que seguirá em protesto. “Quero fazer valer nosso direito, olhar na cara do Datena e perguntar por que ele está fugindo do debate comigo”.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
O PSDB acabou homologando a candidatura de Datena e a convenção deve acontecer neste sábado, 27. Quais medidas serão tomadas? Pretendo entrar na segunda-feira com um pedido de impugnação da convenção, que vai ser feita com preceitos errados. E vou alegar que o Cidadania não foi consultado em nenhum momento sobre o que eles estão fazendo. O presidente do Cidadania disse que não foi comunicado. E pretendo ingressar com uma ação na Justiça para que ele [Datena] devolva todos os recursos do fundo eleitoral e do fundo partidário que foram gastos com essa pré-campanha dele: aluguel de sede, aluguel de carro, contratação de marqueteiro. Porque não é justo um cara que é milionário como ele se usurpar de dinheiro público para ficar aparecendo na imprensa e ficar dando entrevista, e depois largar o partido na mão, que é o que ele fez nos outros onze partidos que passou. No PSDB não vai ser assim. Ele vai pagar na pessoa física por isso. Porque ele, como é um cara rico, não teria problema nenhum em custear essas questões. O cara usa dinheiro público para ser candidato e desiste. E não é a primeira vez. Já é recorrente essa atitude dele.
Qual a motivação da sua candidatura inicialmente? A nossa candidatura nasceu do anseio de sermos ouvidos, uma vez que eles não estão respeitando o acordo que havia sido feito pelo prefeito Bruno Covas, no apoio à reeleição do Ricardo Nunes. Até o Eduardo Leite virar presidente, era natural o apoio do PSDB ao Ricardo Nunes. Quando ele vira presidente do partido, começa a todo custo querer se vingar daqueles que trabalharam nas prévias aqui para o João Doria. Ele, visceralmente, começa a colocar as garras de fora, fazendo intervenções no diretório, não respeitando esse legado tucano na cidade.
Então a sua participação está mantida na convenção? Sim. Já tenho a confirmação de 780 militantes que estarão comigo. Vamos lá protestar e fazer valer o nosso direito. Quero olhar na cara do Datena e perguntar por que ele está fugindo do debate comigo. Não é nada contra ele pessoalmente, mas é preciso que seja feito um amplo debate. Desde que o Datena foi filiado, ninguém conversou com ele, ninguém sabe o que ele pensa. Ele só se reúne com o Aécio, com o Marconi [Perillo, presidente nacional] e com o Jose Aníbal [presidente municipal do PSDB]. Ele tem todo o direito de ser candidato, mas num processo legítimo e democrático. Vale lembrar que o José Serra, quando foi candidato em 2004, passou por prévias, assim como o João Dória em 2016 e o Bruno Covas em 2020. O Datena, não. Ele quer desrespeitar a nossa história, tentando reescrevê-la de uma forma que só ele acredita que seja viável. E isso não vai funcionar.
Vai haver algum tipo de embate? Ele vai ser vaiado, não tenho dúvida. Como é que um cara que chega pela porta dos fundos quer ser ovacionado por alguém? Claro que eu não vou ser o provocador. Mas vou levar um caminhão de som com todas as falas dele criticando o prefeito Bruno Covas, criticando o prefeito José Serra, criticando o Aécio, dizendo que o Aécio tinha que estar preso, que o lugar de ladrão era na cadeia.
O senhor mencionou uma possível represália da direção em relação à ala paulistana. Foi depois das derrotas que nós tivemos eleitoralmente em São Paulo, do Rodrigo Garcia, de não terem dado o direito do João Dória ser candidato a presidente da República. E quando o Aécio Neves e o Eduardo Leite começam a querer intervir aqui em São Paulo, porque eles sabem que São Paulo, mesmo não tendo mandato, não tendo governador, a gente tem uma força política no Estado, porque as principais lideranças estão aqui. Fernando Henrique, José Serra e muitos outros. O plano deles é de aniquilar o partido em São Paulo. Um partido que estava acostumado a ter prévia, discussão temática, discussão programática, hoje o que se vê é uma foto, com quatro caras decidindo o futuro de um partido que governou o país e governou o estado aqui por 28 anos.
Alguns de seus adversários chegaram a falar que haveria a possibilidade de uma desfiliação sua do PSDB. Eu não saio do PSDB. O intruso não sou eu. O único partido que eu me filiei a vida inteira foi o PSDB. Não saio. E se eles de alguma forma tentarem me expulsar, eu vou na Justiça, porque eles não têm motivo nenhum para me expulsar. Até porque eu nada mais estou fazendo do que exercer o meu direito de militante filiado do PSDB.